Quarta-Feira Criativa S03E04

Este é o quarto episódio da terceira temporada do projeto Quarta-Feira Criativa. Participe e veja seu microconto publicado em uma antologia digital ao final do projeto!

Caso precise do regulamento, acesse-o pelo link a seguir:

https://lucaspalhao.wordpress.com/2016/08/17/regulamento-da-terceira-temporada-do-projeto-quarta-feira-criativa/

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Não havia luz naquela noite. Mesmo assim, a garotinha voltava para casa apenas sob o fraco brilho do luar.

Andando pelas ruas, tentava encontrar o caminho de volta para casa. Assustava-se em cada esquina ao ouvir miados e latidos entre vultos saltitantes no meio da escuridão.

Corria apressadamente quando uma boca enorme e dois olhos grandes se abriram à sua frente, emitindo um brilho amarelo forte. Gritou e tentou correr, mas não conseguia sair do lugar. Então, seus pés perderam o contato com o chão, o que a fez fechar os olhos e se encolher toda em desespero.

— Calma, filha!

— Pai!? — respondeu, percebendo que já estava no colo dele. Olhou para as luzes, que antes eram boca e olhos, e verificou que eram, na verdade, a porta e as janelas de sua própria casa.

— Acho que já chega de brincar no quintal por hoje, não é?

— Tá…

32 comentários sobre “Quarta-Feira Criativa S03E04

  1. Herbanário

    Sinto o chão frio da calçada de cimento sob o meu corpo. O vento está forte e ainda nem é noite. Logo se aproxima da porta um grupo de jovens lindas. Aproveito-me da confusão e entro junto com elas na loja de ervas. A dona pousa o olhar em algum ponto acima dos meus olhos amarelos. Com um meio sorriso fixado no rosto vincado, se dirige às moças. Mas seu pensamento divaga: “Esvoaçantes, meninas-borboletas sorridentes, iluminadas. Borboletas recém-saídas do casulo. Será que pensam um dia envelhecer? Meninas-moças que vivem atrás de poções mágicas para conquistar namorados. Ah, meninas-borboletas, brilho tão reluzente quanto fugaz, usufruam a dádiva da ignorância de serem finitas: simplesmente, voem. ” Assim elas o fazem. Mal acabaram de entrar e já saem voando, com seus pacotinhos de ervas e poções mágicas dentro de suas bolsas de grife. Quando vão aprender que amor não se atrai com feitiços? Porque amor é feitiço. Mágica indissolúvel quando os dois corpos se fundem e se transportam para uma dimensão além do tempo e espaço. Além das palavras. Além de tudo que não seja sentimento e sensação. A velha das ervas conhece este amor. Me olha atravessado quando lê meu pensamento. Ela, que sabe misturar grãos e condimentos para curar a tristeza no coração das gentes. Como não conheceria o amor verdadeiro? Por que pensar em amar lhe deixa vulnerável e insegura? Me encara e dá um sorriso torto, porém doce. Dirige-se para os fundos da loja. Fico em dúvida se ela voltará com uma vassoura para me espantar ou se simplesmente vai me deixar lá naquele canto, abrigado do frio e da noite. Ela retorna carregando uma coberta macia e um pires. Sou recompensado por minha astúcia com leite morno. Leite temperado com canela. Me esfrego em suas pernas. A senhora se rende, por fim. Abaixa-se meio encurvada, afaga minha cabeça macia e me presenteia com um sorriso genuíno. Durmo bem.

    https://www.facebook.com/cristinabresser/?fref=ts
    Autorizo a republicação deste meu texto na antologia caso seja aprovado.

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  2. Eu Barracão

    Ah, quando eu crescer eu quero ser…

    O eco do som dá voltas na sala grande quase desconhecendo distâncias e paredes.
    A menina vê desenhos na tinta descascada do barracão, meio reboco, meio sujo, meio velho, meio úmido. O barracão no fundo de casa era um dos lugares preferidos nas tardes daquela que se desprendia do seu nome diariamente. Se chamava Emília ou Bebel, os seus nomes preferidos. O seu namorado era sempre Lucca, ela gostava só desse.

    A cada tarde que deveria ser de estudos constantes para a profissão do futuro, a menina ia brincar de imaginação nos fundos de casa. A sua ausência não era notada, casa grande, cheia de árvores, espaços, frescor, árvores frutíferas, gatos adotivos, cães atentos aos movimentos dela pequena que sonhava andando.

    O barracão do fundo da casa tinha cheiro de velho, aparelhos de ginástica mofados, madeiras entulhadas, cheiro de banheiro misturado com couro. Janelinhas pequenas, venezianas altas um pouco enferrujadas. Portas frágeis de madeira empenada. A menina sempre se sentava dentro em um banquinho pequeno de acolchoado vermelho, era bem baixinho. Ela gostava dalí, parecia ter companhias espirituais. Muitas horas passava todas as tardes, e lá ela começou a criar histórias. A casa grande e bonita ficava vazia quase todo o dia.

    A menina nunca sonhara em fazer arte, mas naquele barracão velho do fundo da casa ela magicamente mudava. O barracão parecia não obrigar a menina a ser uma exímia engenheira, advogada, médica ou sei lá o quê reconhecida internacionalmente pelo mundo aristocrata.
    No barracão não chegavam os discursos de sucesso obrigatórios proferidos pelo seu pai, familiares, amigos ricos e discursistas sobre a paz mundial. O barracão cheirava mal, era lugar de coisas esquecidas, nele não chegavam os sonhos de ninguém.

    Os sonhos dela se sentiam mais confortáveis no barracão velho, lá eles não passavam de provocações libertas e sem censura.

    desenhomoderno.wordpress.com

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    1. Olá, Raquel.

      Obrigado pela sua participação.

      Seu texto tem pouco mais de 1900 caracteres, então está dentro do regulamento.
      Porém, não encontrei as três imagens dos dados no seu conto.
      O gato que você cita, pode ser a sombra ou o monstro de um dos dados (a imagem está desfocada, então não tem problema).
      Mas não vi nada que remetesse à lua ou noite e nem a uma lâmpada, luz ou ideia.

      Fique à vontade para enviar o texto alterado, caso queira, e para participar dos outros episódios.

      Atenciosamente,
      Lucas Palhão

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  3. Eu sou uma Segunda-Feira

    Aquele dia terrivelmente inevitável que virou o restolho da caça do fim de semana.

    Sou aquele dia que obriga cada um a olhar para própria ressaca de bobagens e mais outras bobagens que ainda virão. Mesmo sem querer.

    Sou aquele dia teimoso cheio de sombras marcadas, que faz começar uma nova semana alí, sem pena, sem choro, sem melindres.

    Sou um dia nada fofo, nada Pequeno Príncipe, nada floreado e coberto por arabesques.
    Posso também ser um dia de lembrança boa, mas que só virá o reconhecimento na quarta, dia do êxtase pós cansaço.

    Posso ser feriado, posso ser enforcada, posso ser vidente, virada, viscosa.

    Posso ser uma manhã de amor que não coube no fim de semana de euforia.

    Posso também lembrar a você que tudo é questão de recomeço, e fazer isso sem dor.

    Em inglês, a segunda-feira é o dia da lua. Posso ser vista sem necessariamente ser temida.

    Posso ser apenas soprada, e você nem verá que passei.

    Sou o dia da esperança de mudança, de início de regime, de começar academia, decisão de deixar drogas banais, saída de amores falidos, início das aulas, dos tempos, do ano. Afinal, todo ano começa oficialmente em alguma segunda-feira.

    Acendo a luz e respiro.

    Todo recomeço começa em um irritante, ridículo, frequente e sincero “dia da lua”.

    desenhomoderno.wordpress.com

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    1. Olá, Raquel!

      Perfeito. Você seguiu todas as regras.
      Seu texto está concorrendo a aparecer no quarto capítulo da antologia.

      Fique à vontade para participar dos outros episódios até a data limite.

      Atenciosamente,
      Lucas Palhão

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  4. Lidia nunca se sentia segura depois que a Lua se escondia no horizonte. Falassem o que fosse, os monstros existiam, estavam à solta por aí e ela, no auge dos seus onze anos bem vividos, torcia os dedos para que nunca encontrasse um antes dos trinta. Os cabelos escuros cobriam-lhe a face cabisbaixa; era quase hora da lua se pôr o que significava que deveria correr direto para casa. Às vezes pensava ser idiotice sua sentir medo justamente de dia. O Sol não deveria ser a proteção de tudo e todos? Mas a Lua era muito melhor heroína.

    Estava embaixo de um poste de luz – uma que, por sinal, piscava tão devagar quanto seu avô caminhava – quando um farfalhar lhe despertou a atenção. Imediatamente os pelos da nuca se eriçaram e a mão se molhou de suor. “É tudo sua imaginação”, pensou solitária, enquanto o coração galopava no peito. Mas a figura apareceu na sua frente tão repentinamente que mal teve de sequer pensar. Era… Horrorosa. A sua própria boca se abriu em um círculo perfeito enquanto a criatura gritava do outro lado. Ela imitou o berro. Lidia desatou a correr em pânico em direção a sua casa, imaginando que aquele rosto assustador não sairia tão cedo da sua cabeça.

    ***

    – É só uma sombra, Maria. Vê? Já se foi. – A voz da mãe era suave, mas o grito da criança ainda estava entalado na garganta. Os adultos podiam dizer o que quisessem, mas Maria tinha absoluta certeza de que sombras não tinham cabelos negros e uma boca de infinitos dentes pontiagudos, muito menos corriam como o vento. Com toda a inteligência dos seus cinco anos de idade, tinha absoluta certeza de ter visto um bicho papão. Com lágrimas nos olhos e um medo paralisante, deixou-se ser arrastada pela mãe. Graças aos céus o Sol estava quase nascendo e ela finalmente estaria protegida.

    Autora: Giovanna Cuzziol.
    Prateleira de Vidro (https://prateleiradevidro.wordpress.com/)
    publicação autorizada

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    1. Gostei muito dos seus contos, Gi Longo. Acho que escreve enxuto e sem muitos artigos. Uma escrita que flui gostosamente e os temas também demonstrando muita sensibilidade e poesia.

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  5. A poeta e a morte

    Estaciona o carro na porta da casa, pega a arma no porta-luvas e desce quase sem ver aonde pisa. Ouve-se apenas o som rouco da sua respiração ofegante.

    O grande ator Walter Lobo entra na casa fazendo jus ao nome, com um uivo abre a porta e acende a luz do quarto e com fúria aponta a arma para ela. O amante, no canto da cama, é um mero ator coadjuvante.

    Ela, atriz principal, olha assustada nos olhos de Lobo. São trêmulas e entrecortadas suas palavras, como as do poeta que recita o último soneto:

    -Então eras tu, essa famosa morte de quem tanto falam? Tanto tempo juntos e não te havia reconhecido!

    Mesmo louco de fúria, Walter compreende imediatamente: ele, que sempre se julgou o maior ator do mundo, percebe que não está à altura de um papel tão importante. Compreende que a morte é um personagem grande demais para seu pouco talento.

    Devagar se abaixa e, com cuidado para que não dispare, coloca o revólver no chão: os seis cartuchos intactos.

    Não sente mais ódio nem desespero, apenas a grande vergonha do ator que esquece a fala no meio da peça ou daquele que abandona o palco sem dar explicações ao público. Caminha lentamente de costas, sem tirar os olhos dela. Depois se vira e sai numa corrida desatinada sob a parca claridade da lua minguante, feito um lobo que foge de outro animal muito mais forte.

    E ninguém nunca mais ouviu falar do artista nem do homem. Talvez tenha mudado de ofício, de cidade e de nome.

    Ela, até então poeta de poucos versos e raríssimos leitores, passou a escrever poemas maravilhosos sobre a vida, o amor e a morte, vindo a ser reconhecida como a maior do seu tempo.

    Autor: Luiz Walter Furtado
    Publicação autorizada

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      1. Olá, Luiz!
        Eu não vi seu conto.
        Perdão.

        Ainda não comecei a avaliação dos contos dos episódios, então as curtidas estão servindo apenas como um “recebido”.

        Assim que eu avaliar, você receberá um parecer sobre o conto.

        Obrigado pela participação!

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  6. Meia Noite

    Minha namorada mandou uma mensagem: “Pode vir aqui em casa?”
    Levantei do sofá num salto. A casa dela era ao lado da minha. Pulei o muro e entrei pela janela do seu quarto como de costume. Ela tava sentada na cama, lendo umas revistas e comendo pizza.
    -Oi – disse ela
    -Oi- respondi indo em sua direção e lhe dando uns beijos no pescoço.
    -Para Jhon. Não foi pra isso que te chamei. A vovó teve mais um desejo. Ela quer o Pão Achocolatado lá do Francis. Você pode ir comprar um?
    -Sacanagem amor. Tô bem assistindo o Programa do Palhão e você me chama pra isso.
    -Poxa amor, ela tá grávida. Vai lá pra mim, vai. – disse ela fazendo uma cara que sempre faz quando quer me convencer de alguma coisa.
    Acabei indo. Saí na rua. A lua sorria no céu. Estava tudo deserto e silencioso. Olhei para o chão, vi minha sombra e tive a impressão de que ela não estava exatamente fazendo o que eu fazia. Parecia ter movimentos independentes. Achei aquilo estranho. Só então me dei conta que naquele exato momento eu passava na frente do Casarão onde morava uma família sinistra. Diziam que eles não eram humanos. Andei mais rápido ao passar por ali. Cheguei na taverna e pedi o tal pão para a velha. Enquanto o pão esquentava o Francis me contou que havia hackeado a lâmpada de uma casa da vizinhança. Achei bizarro. Antes de me entregar o pão, ele passou o dedo no chocolate e provou:
    -Tá uma delícia – ele disse.
    Na volta eu ia me perguntando por que o Francis usa óculos escuro de noite, quando eu vi na janela do Casarão. Inicialmente achei que fossem duas pessoas, depois percebi que eram gêmeas siamesas. Quando passei, uma delas me acenou sorrindo. A outra ficou apenas me olhando séria. Acenei de volta e segui para a casa da minha namorada. Chegando lá, ela disse:
    -Você custou tanto que a vovó acabou dormindo.
    Fiz cara feia. Ela riu.
    Não fica assim não, amor. Senta aqui do meu lado senta. Vamos comer esse Pão Achocolatado e assistir juntos o Programa do Palhão para ver quem ganha esse concurso.

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  7. Lua de Sangue

    A lua cheia trazia horrores a um vilarejo pacato. Em noites como aquela, homens prudentes resguardavam-se em suas casas. Temiam todos um monstro cruento, de tantos segredos quanto o corpo celeste no céu.

    Nunca fora a besta vista. Dela sabia-se apenas do costume de quebrar lâmpadas, além das várias vozes – das quais fazia uso – e o apetite voraz por carne humana que tinha.

    Numa daquelas ocasiões, preocupava-se zeloso pai pelo atraso da filha que fora atrás de seu cachorro fugido. Tanta morosidade, só fazia o progenitor pensar no pior, sentimento por sua esposa partilhado.

    – “Pai!” – Um grito de menina, seguido do quebrar de galhos, fez o chefe da família reconhecer sua prole. Não pensou ele, armou-se da primeira peixeira que a mão alcançou, para filha ir salvar. A esposa, com medo, tentou o deter.

    – “É nossa filha!” – O homem esbravejou, logo após se jogar no mato, procurava sinais de sua menina, ficou louco, nada encontrou. Fora ele envolvido por um silêncio perturbador, quando (Ahh!) foi ele abraçado por qualquer vulto misterioso.

    Nunca mais fora visto o corajoso pai.

    (Autorizo o conto para publicação, mediante citação da autoria)

    Autor: Luiz Batista

    Perfil no Face: http://zip.net/bntFkT

    Desde já, agradeço a oportunidade.

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  8. Título: Sob Lua
    Sempre escutou que andar na floresta à noite era perigoso. Todavia, dada a proximidade do acampamento ela achou que ficaria bem. Saiu com a lanterna para procurar o banheiro, nada mais do que uma zona afastada das barracas. Acampar é difícil, e com o cheiro de urina é pior ainda.
    Tomou cuidado para não pisar em nenhum bicho que pudesse lhe subir pela perna. A caminhada era lenta pois tinha bebido um pouco. Só o pouco suficiente para deixar sua percepção alterada e seu caminhar torto.
    Chegou aonde queria e desligou a lâmpada da lanterna. Arriou a calça e começou a se sentir aliviada estando sozinha sob a luz da lua. Mas parecia que algo estava se aproximando. Podia ser uma de suas amigas.
    Escutou a folhagem do mato farfalhar. Algum bicho?
    Ouviu alguns galhos se quebrando. Passos?
    Sentiu uma baforada perto demais. Quem é?
    Sentiu um corte. Gritou de dor!
    Tudo ficou em silêncio. Um monstro.

    (Autorizo o conto para publicação, mediante citação da autoria)
    Facebook: https://www.facebook.com/evandro.gaffuri

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  9. Título: Demônios III
    A última pessoa que deveria ter filho era ela, mas mesmo assim tinha. O pai? Ninguém sabia quem era. Estava em casa com o garoto de cinco anos em seu apartamento e queria relaxar um pouco. Colocou o moleque para dormir e testou aquele novo entorpecente que ganhou do namorado. Seu corpo ficou mais leve e tudo tomou um aspecto mais colorido. Estava com energia e feliz. Aquela droga era muito boa! Mas então viu aquele bicho no corredor, pequeno, possuía um pouco mais de um metro, porém assustador. Ela gritou e a criatura foi em sua direção. Uma briga estranha começou, o bicho não queria morrer. A mulher conseguiu sair vitoriosa, tacou ele pela janela! O que era aquilo que havia tomado? Causava alucinações bastante reais. Até estava alucinando que a polícia invadiu sua casa e a acusava de ter jogado o filho pela janela do oitavo andar.

    Facebook: https://www.facebook.com/kayo.augustos
    Página de Minicontos: https://www.facebook.com/FolhasMacabras/
    (Caso seja selecionado, por favor divulgar a página).
    Autorizo o conto para publicação, mediante citação da autoria

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