Quarta-Feira Criativa S03E03

Bem-vindos ao terceiro episódio!

Caso precise do regulamento, acesse-o pelo link a seguir:

https://lucaspalhao.wordpress.com/2016/08/17/regulamento-da-terceira-temporada-do-projeto-quarta-feira-criativa/

quarta_s03e03

Helena, uma garotinha de 8 anos, adorava fuçar os livros velhos de seu pai. Um dia, em uma página de uma enciclopédia qualquer, viu fotos de pirâmides. Leu um pouco a respeito e se perguntava como podiam ter construído aquilo em uma época tão remota e sem tecnologia.

*

Aos 11 anos, quando aprendia sobre o Egito na escola, a garota se maravilhou com o povo dos faraós e consortes. E claro, novamente com seus túmulos na Necrópole de Gizé.

*

Já com 32 anos, Helena havia juntado o suficiente para viajar meio globo e ver de perto as construções que a fascinavam. Tinha o suficiente para passar apenas um dia e visitar as pirâmides com um guia.

Só que naquele dia choveu.

47 comentários sobre “Quarta-Feira Criativa S03E03

  1. Escritor Jardineiro

    Num tempo em que o Faraó do Egito tinha o poder sobre muitos povos e nações, um humilde jovem fazia parte de seus súditos. Aquele rapaz era tido por muitos por desprezível, pois, ao invés de trabalhar, como os outros de sua idade, passava horas e horas somente na companhia de alguns velhos livros que herdara do avô, um velho escrivão que já trabalhara com um Faraó já falecido. Depois de muito ler e reler todos os livros que tinha, Kanope, o jovem rapaz, resolveu que já era o momento de mudar o rumo de sua história; foi quando, munido de tinta e papiro, começou a escrever novas histórias e enviá-las aos escribas do Faraó. Pouco tempo depois, suas histórias ficaram bastante conhecidas. Ele, entretanto, preferiu manter-se no anonimato, pois o que mais desejara era que seus escritos fossem lidos e despertasse o interesse da população pela leitura, o que realmente ocorreu.
    Já vivendo sozinho e sem obter qualquer lucro com seus escritos, Kanope procurou algum trabalho e, quis o destino que ele fosse contratado para ser o jardineiro do Faraó. Algum tempo depois que já cuidava dos jardins do grande palácio, numa manhã bem ensolarada, ele notou a filha do Faraó sentada sob a sombra de um cedro, lendo um de seus primeiros escritos, justamente o que contava algumas lendas das pirâmides egípcias. Não conseguindo conter-se, ele aproximou-se da linda jovem e perguntou-lhe o que lia. Ela, muito gentil e delicada, respondeu-lhe que era uma história de pirâmides contada por um escritor anônimo, o qual tinha fábulas fantásticas e que, pela riqueza do conteúdo, ele certamente era alguém bastante sábio. O rapaz, que escutava a moça numa distância de uns dois metros, concordou com ela e voltou para o cuidado com as plantas do jardim.
    Anos depois, quando já estava bem velhinho, mas bastante lúcido e feliz, Kanope, ainda no mesmo ofício de jardineiro, soube, por parte da agora senhora filha do Faraó, que seus livros haviam “conquistado outras culturas” e que passaram a serem lidos e conhecidos por leitores de outros continentes.
    Kanope ficou feliz ao receber aquela notícia. Ele se sentia completamente realizado.

    Erisvaldo Magalhães,

    Primeira quarta-feira de setembro de 2016.

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  2. Lucca
    Guile

    Lucca formou-se arqueólogo, com apoio dos avós, com os quais tinha crescido. Não conhecia os pais.
    Depois que seus avós morreram num acidente de carro, lembrava-se sempre das últimas palavras de seu avô. Havia uma antiga pirâmide escondida dentro de uma outra pirâmide no meio da Amazônia e que, se o neto procurasse direito, encontraria informações sobre os pais. Passou-lhe as coordenadas do lugar, pedindo que guardasse aquela informação com a própria vida.
    Agora, lembrando das lendas e histórias que seus avós lhe contavam, parado na entrada da pirâmide, Lucca olhava estarrecido para o monumento à sua frente. Como poderia imaginar? Ali, no meio daquela floresta enorme, uma pirâmide erguia-se imponente ante aos seus olhos.
    Maravilhado, ouviu o portal da pirâmide se abrir, um barulho alto de pedras colidindo-se umas com as outras. Quando o barulho parou o silêncio pareceu vir como uma tsunami. Um brilho dourado saía da entrada da pirâmide.
    Entrando na pirâmide, Lucca surpreendeu-se ainda mais. O monumento era oco e uma pequena pirâmide, aparentemente feita de ouro, flutuava no centro daquele salão. Em sua superfície havia duas figuras egípcias. Um homem e uma mulher, um ao lado do outro e, no meio dos dois, em baixo-relevo, um espaço no formato de uma mão.
    Lucca lembrou-se, num flash que quase o fez perder o equilíbrio, de uma conversa de seus avós, ouvida por ele às escondidas. “Na hora certa, ele saberá. A chave…”

    – Sou eu…

    Tremendo, a mão de Lucca tocou o metal dourado, encaixando-se no espaço que contornava perfeitamente sua palma e seus dedos. Lucca ficou momentaneamente cego e sentiu o chão sumir sob seus pés.
    Abriu os olhos. Estava em pé numa sacada de um grande palácio. À sua frente haviam duas grandes mesas de pedra. Sobre elas um homem e uma mulher, mortos. Lucca entendeu. Tudo levava àquilo. A lenda era sua profecia.
    Foi até o para-peito e ergueu os braços. A multidão na planície em frente ao palácio gritou em êxtase:

    – Luk´Rá! Luk´Rá!

    Autor: Guile
    Autorizado para publicação
    http://www.flickr.com/photos/guibapoeta
    facebook: Guile Balarin

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  3. My translator won’t translate it but it appears to be some mathematical quiz (?) posing some eight year old, curious about the Pyramids, fascinated by them who grows to a older age and attempts to view them up close and I think the question is posed as to what day she chose to go visit them (pyramids). Either way it is interesting, a post of this nature as if addressing a class, and there does appear to be a class as is witnessed by the likes.

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    1. You came close, ANM7!

      The little girl saw pictures of the pyramids and became curious when she was 8.
      She learned more about them at school when she was 11.
      Finally, when she turned 32, she had saved enough money to spend one day in Egypt and visit the pyramids. However, it rained that day and she couldn’t visit them.

      Thanks for your efforts on understanding the microstory 🙂

      See you!

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  4. Oi, Lucas. Tudo bem? Mais uma vez te parabenizo pela proposta dos microcontos. Dá saudade de fazer, mas dessa vez vou participar só como observadora. Parabéns pelo microconto. E sucesso com mais essa quarta-feira criativa. Beijão! ❤

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  5. Viagem fantástica

    Júlia, uma menina muito curiosa, adorava mexer nos livros de sua mãe, Helena, professora de história, que sempre lhe narrava maravilhas acerca do mundo, fatos que haviam acontecido em tempos remotos e despertavam, cada vez mais, o contínuo interesse em aprender sobre o passado – e quanto mais remoto, mais interessante lhe parecia.
    Certo dia, estava no escritório de sua mãe, quando um livro em especial, lhe chamara a atenção, havia uma pirâmide estampada em sua capa, muito grande e brilhante; Júlia nunca tinha notado aquele livro antes. Pegou-o, abriu, começou a folheá-lo e a admirar suas imagens, quando de repente, foi sugada para dentro dele.
    Espantada, porém não assustada, Júlia se viu em outro mundo, como que em um sonho, estava no Egito antigo, em meio à construção das pirâmides. Via os escravos carregando os gigantescos blocos de pedra e aqueles monumentos sendo erguidos à sua frente. Andava um pouco e já estava em outra página, ao lado de um faraó, ou de um sarcófago. Viu o lindo farol de Alexandria e também sua estonteante biblioteca, ao vê-la não resistiu; entrou.
    Começou a mexer nos pergaminhos e ficou encantada ao ver os hieróglifos e assim passou horas naquele lugar fascinante, até que ouviu um som que vinha de uma porta em um canto quase escondido. Xereta que era, Júlia foi ver o que havia por detrás daquela porta e ao abri-la foi imediatamente sugada de volta ao escritório de seu apartamento, São Paulo, Brasil, século XXI.

    Grazielle Pacini Segeti

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  6. No fundo eu ainda sou aquela criança com a mesma impotência, apenas as marcas estão mais disfarçadas. Por mais que eu tente construir minha estrada, não consigo me livrar dos fantasmas antigos, arrastam-me para suas tumbas a cada passo que dou a frente.
    Tentei deixar pra trás aquela cidade, riscar do mapa da memória, mas boa ou má são as linhas de toda minha história. Ela tem meu nome, minha descendência e meu próprio sangue. Sangue que por vezes eu tinha que ficar olhando ele tirar das próprias veias, ou por vezes dos nossos bichos de estimação. Por sorte, nunca foi o meu ou da minha mãe ou irmãos.
    Eu era apenas uma criança, tendo que presenciar tamanha violência, lutar contra a fome e toda tipo de desventuras, ele deveria ter sido o meu herói, mas o alcoolismo sempre esteve acima do seu senso de piedade. Ele nunca me violentou sexualmente, mas de todas as outras formas possíveis.
    Hoje aos trinta e cinco anos, posso dizer que estou começando a trilhar meu caminho em paz e por mais que eu tenha vivido muitos anos sendo tão fria e tão impenetrável como as fortalezas dos faraós, o amor escalou-me. conseguiu entrar e me fazer alguém melhor.

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      1. Olá, Luciana.

        Obrigado pela participação!
        Identifiquei as imagens dos dados no texto e está dentro do limite de 2000 caracteres.
        Excelente. Você está concorrendo!

        Ah, faltou só um título 🙂

        Atenciosamente,
        Lucas Palhão

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  7. A Garota do prédio

    Era e ainda é até hoje costumeira essa atividade entre as crianças em todo o mundo uma brincadeira para as crianças e muitas vezes um incomodo para os adultos, afinal, quem nunca tocou uma campainha de uma casa, prédio e correra logo em seguida? Mais em uma pequena cidade do outro lado do mundo, essa travessura de criança fora marcada de maneira não tanto divertida assim….

    Todos os anos, somente na sexta feira 13, a garotada de uma pequena cidade próximo a Las Vegas, saiam de porta em porta apertando suas campainhas e dizendo:

    “Doces ou travessuras? Lá, lá, lá, lá, lá”

    Era e ainda é uma tradição de lá, crianças saírem para pedir doces de porta em porta, geralmente fantasiadas de algum personagem de terror. Todos na cidade participavam dessa atividade, se preparando para receber a garotada com doces ou travessuras. Apenas um homem, não entrava no clima, ele odiava crianças e as tratava muito mal sempre que alguma se aproximava dele ou do seu prédio.

    Sabendo disso, havia um grupo de crianças, na qual a pequena Ana fazia parte, que dedicava uma atenção especial a este determinado prédio em questão:
    Todos os dias no final da tarde, independentemente de ser ou não sexta-feira 13, eles apertavam a campainha dele e saia correndo. Isso irritava muito o velho de maneira descomunal, fazendo com que esbravejasse de maneira absurda da porta, jogando inclusive pragas e maldições verbais nelas, garantindo assim a diversão das crianças, que encarava aquilo tudo como uma eterna e divertida brincadeira.

    Mais as suas pragas e maldições jogadas não tinha nada de engraçado, nem muito menos fundos de brincadeiras, aquele homem as odiava profundamente, principalmente a pequena Ana, que ao que parecia, durante suas vigilâncias ocultas pela janela, era a cabeça da turma.

    Aninha, como era chamada pelos seus pais e amiguinhos, era implacavelmente levada. Como toda criança assim, ao notar que aquele velho não gostava da brincadeira, as chingavam e ainda por cima nunca dava doces, a irritava muito. Não havia muito a fazer a não ser devolver a gentileza, fazendo aquilo que o deixava furioso.
    Aninha tocava constantemente a campainha do velho, estando em grupo ou sozinha, não importava a hora em que passasse pela frente do prédio, era irresistível a tentação de apertar aquele bendito botão e fugir em seguida. Se na sua infância, nunca fez isso, então você simplesmente não sabe o que é adrenalina.

    Eles achavam aquele velho um bobão, chato e ruim. Em partes estavam certos, mais nem tanto. Se tem uma coisa que aquele velho não tinha nada, era de bobo. E assim era todos os dias, intensificando-se muito mais nos fins de semana, onde os pais ficavam sentados em suas varandas conversando, enquanto os seus filhos corriam para brincar.

    O velho já sabia mais ou menos os horários em que as crianças iam para rua brincar e se mantinha em prontidão em sua janela, vigiando, porém nunca conseguia pega-los.
    Mais ele prometeu na última sexta feira 13: ao invés de doces ou travessuras, aquele velho jurou a pequena Ana.

    “Um dia garota você não poderá correr e nem se esconder,
    Nesse dia seus amiguinhos e nem os seus xexelentos pais,
    Nem ninguém irá lhe proteger e ai finalmente eu vou lhe pegar.”

    Um forte vendaval passou e Ana sentiu o peso daquelas palavras cortantes, em seus pequenos ouvidos, juntamente com um enorme calafrio, seguido de um breve pequeno pavor, ela nada lhe disse, como fazia rotineiramente, e foi devagar descendo os degraus porém sem dar as costas, e sem tirar os olhos do velhote que se mantinha lá prostrado na porta com uma cara que ela jamais virá na vida, monstruosa e perversa.

    A pequena Aninha passou alguns dias sem tocar aquela companhia, assim como seus amiguinhos, todos ficaram amedrontados com o relato da menina, mais isso durara pouco tempo, afinal, a pequena Ana tinha somente 6 anos de idade, assim como os demais garotos.

    Um certo dia, em um belo final de tarde, onde o sol de verão ainda brilhava alto, apesar de já ser noite, o mesmo teimava em se pôr, a Aninha saíra para brincar na rua como de costume, porém sozinha, seus amiguinhos todos haviam ido para colônias de férias ou para lugares distantes com suas famílias. Apesar de haver outras crianças lá, não era a mesma coisa, não era a sua turminha.
    Nesse dia seus pais que costumavam ficar na varanda admirando o pôr do sol e vigiando a menina, inusitadamente não repetirá esse ato, estavam lá dentro ocupados com outras coisas.

    A rua, estava atipicamente vazia, já que a maioria da vizinhança havia viajado. Como era final de verão, folhas de cores alaranjadas já começavam a cair vagarosamente das árvores e apesar do sol está ainda alto, ventava e o vento fazia com que as folhas voassem, pairassem no ar, fazendo muitas vezes lindos redemoinhos. A pequena Ana descendo sozinha a rua, pensando em que e com quem iria brincar, parou estranhamente pela primeira vez para admirar aquilo, abaixou-se pegando uma das folhas ficando ali algum tempo, longo, comtemplando sua beleza, sua forma e sua linda cor, com os olhos brilhando e braços abertos, girava igual no mesmo sentido, que os redemoinhos, desejando talvez voar como eles, ela girou, girou, juntamente com os redemoinhos de folhas e acompanhada com suas tranças e a saia do seu vestidinho azul bebê. Silencio, bem estar, contemplação, paz e só. Foi tudo o que a garotinha sentirá pela primeira vez, além de uma misteriosa sensação de despedida, será que do verão?

    Após esse momento, no qual ela nem sabe o quanto durou, Aninha decidiu que a melhor brincadeira para ela que estava só era: tocar a campainha daquele velho ranzinza. Afinal quando foi mesmo a última vez que ela fizera isso? Já estava na hora de volta, ela já descansara demais.

    O que a pequena Ana não sabia, era que, aquele velho não descansara nada. Estava obcecado pelas crianças, especialmente por Ana, ansiava se vingar de qualquer maneira, e para isso passará todas as tardes religiosamente da sua janela no segundo andar, do seu quarto, vigiando, estudando, seguindo todos os passos, aguardando pela hora certa, Ana mal sabia o que a aguardava, ele prometera e promessa para ele, era dívida.

    Passos lentos, silencio no ar, assobio forte e assustador do vento ao mesmo tempo, em que o sol se crava ao longe.
    A garota olha para o prédio, aparentemente vazio ou quem sabe até cheio de pessoas ocupadas demais para estarem em suas janelas.
    Ela olha para janela do velho e tudo está escuro, será que estava acordado? Não importa, Ana apenas queria sentir o gostinho daquele botão novamente.
    A ventania aumentara e seu assobio também, fazendo com que Ana olhasse para os lados assustada, com a sensação de que alguém a estava observando…mal sabia ela que sim, desde o início.

    Luzes apagadas, água, biscoitos na mesinha para o caso de fome, lápis, blocos de notas, binóculos apostos e o mais absoluto silencio. Para todos os efeitos não há ninguém em casa ou talvez eu deva ter me recolhido mais cedo…passo meses, semanas ou quem sabe dias a observar, vigiar, cronometrar cada passo daquela maldita garota e seus amiguinhos a espera de uma chance. Não consigo dormir, nem remédios surtem efeitos, aquela maldita campainha blém blom, blém blom, não consigo para de ouvi-la, assim como os malditos passos delas correndo, aquela garotinha, aquela maldita, ela começou isso!
    Tirando-a do meu caminho, os outro também irão para com certeza.

    Esperei pacientemente, dia após dia, até finalmente conseguir a chance que precisava: a rua está vazia, só o vento e as folhas lhe fazem companhia e até mesmo os seus pais não estão na varanda para protege-la, chegou a hora dessa garotinha me pagar, e depois ai sim, poderei dormir.

    Passos lentos, silencio absoluto, respiração presa, assim que a avisto vindo no meio da rua brincando com as folhas, posição de ataque, sei para onde ela virá. Deixo a porta entre aberta a espera daquela maldita campainha.

    A campainha é tocada rapidamente como de costume, apesar do silencio e do assobio do vento estranho e do medo que a garota está sentindo, ela venceu, ela toca encosta seus dedinhos naquele bendito e redondo botão vermelho. O que Ana não sabia é que essa vitória poderia ser cara demais.

    Toco a campainha e me viro para correr o mais depressa que posso! Olho para trás e vejo o velho parado olhando para baixo e não para mim, não entendo o porquê, só quero apenas de repente ir para casa. Entro falo com a mamãe mais ela parece zangada, nem sequer olha par mim e nem fala comigo, será que já ligaram para contar o que fiz? De repente vejo alguém a porta, é uma vizinha, do mesmo prédio do velho, estou frita. Falo com a mamãe, chamo ela, grito, mais ninguém me ouve, porque? Se o que fiz foi tão grave, me desculpe…meu pescoço dói muito e a cabeça também, não sei o motivo, mais ainda assim sigo a mamãe para ver o que de tão grave aconteceu a ponto dela nem sequer olhar para mim.

    Polícia, faixas amarelas, daquelas de filmes, muitas pessoas em volta, todos os vizinhos e até mesmo algumas das crianças do bairro, vejo aquele velho algemado e sendo levado a viatura dizendo:

    “Eu não pretendia, era apenas um susto e nada mais.
    Eu não queria…”

    Todos choravam muito, porque? E o velho, porque apanhou tanto? E porque tanto sangue?

    De repente minha mamãe grita meu nome completo, coisa que ela só faz quando está muito, mais muito zangada, preciso ir!

    “Ana Ritaaaaaa
    Não! Minha filha não”!

    A dor no pescoço aumenta e minha cabeça começa a doer muito, parece explodir – mamãe me ajude estou aqui!
    Até que de repente, eu começo a me lembrar: estava com medo, tive a sensação de que algo estava errado, mais olhei para todos os lados e não vi ninguém. Passos lentos, silencio absoluto, quase nem respirei para ninguém me pegar. Toquei a campainha e depressa virei-me para correr, mais não sei como, da onde ele saiu, mais estava lá o tempo inteiro, corri o mais depressa que pode, mais uma perna estava no caminho, quem deixara ela lá?
    Cai como uma fruta pesada que cai do pé e lembro do meu pescoço doer muito, escuridão e corri assim mesmo para casa com medo de dormir na rua.

    Será que a mamãe algum dia vai voltar a falar comigo? Ainda estou aqui.

    Olha só quem voltara para casa…hora de brincar.

    Após o acidente, ela resolveu que só sairia para brincar de novo nesse dia, pois sua mamãe andava muito triste e precisava dela
    Sexta feira 13: Todos os anos neste mesmo dia, todos no prédio podem ouvir a voz de Aninha dizendo:

    “Doces ou travessuras Há há há há “

    Sr. Smith desesperado tentava fugir mais ainda assim ouvia a voz da menina dizer:

    “Você pode correr, mais não pode se esconder
    Lá la la la la”

    Pouco a pouco o prédio a cada ano esvaziava, mais Aninha não o abandonara, todos os anos ela ia lá para brincar, agora estava ótimo, tipo casa mal assombrada, mais ela não tinha medo, não precisava mais disso.

    “O velho louco”, assim era chamado, não tinha família e nem para onde ir, por isso apesar de ser odiado por todos não saíra dali. Mas uma sexta feira chegando, ele não suportava mais, sonhava com aquela garota, aquele episódio todos os dias, mais na sexta era o pior de todos, pois era o único dia em que a voz dela, seus passos lentos, sua risada infantil, inocente e o tocar da campainha, não fazia somente parte dos seus sonhos. Chegara a registrar queixa na delegacia, pedir para ser preso novamente, porém ninguém lhe dera ouvidos. Não era somente o velho que ouvia Ana, todos do prédio a ouvia, cantar, sorrir, pedir doces ou travessuras, correr, tocar campainhas, chorar, chamar pela mamãe que nunca viria.

    Essa sexta iria ser diferente: ele iria enfrenta-la não ficaria mais escondido esperando ela ir embora, iria lá fora e resolveria tudo, vai ver ela nem estava lá, era tudo coisa da sua cabeça.

    Passos lentos, campainha tocando, risos, doces ou travessuras.

    Tamanho foi o horror que aquele velho sentiu, ao abrir a porta e dar de cara com a garota, com suas mãozinhas estendidas, carinha inocente, cabelo de tranças com fitas e aquele mesmo vestidinho azul bebê. Ele correra desesperadamente escada acima, não para o seu apartamento, e sim, para o terraço do prédio.
    Passos lentos, respiração ofegante, olhar de suplica, desespero e arrependimento, vontade de voltar no tempo, um tempo no qual não poderia jamais.

    “- Não por favor! Me perdoe, não foi minha intenção, vá embora, por favor…me deixe em paz!”

    “Doces ou travessuras!
    Doces ou travessuras!
    Doces ou travessuras!
    Pode correr mais não pode se esconder, não mais velho.”

    Ele suplica andando para trás, enquanto a garota pede incansavelmente pelos doces nos quais lhe foram negados por ele a vida inteira, se aproximando cada vez mais. Ele grita por socorro, vizinhos saem de suas casas, porém ao olhar para cima o ver sozinho no parapeito do prédio como se estivesse sendo encurralado por alguém, mais eles não conseguem ver nada, apenas ouvem as vozes tanto da menina quanto a dele, uma de desespero, outra de diversão e inocência. Até que alguns novos moradores que não sabem do ocorrido no passado invadem escada acima para socorre-lo, porém, era tarde demais.

    Sr. Smith se jogará do prédio, sofrendo uma parada cardíaca fulminante, antes mesmo de chegar ao chão, seu corpo ainda agonizava após o impacto, parecia estar lutando contra alguma coisa apesar de não se encontrar mais com vida. E para surpresa de alguns, não havia simplesmente ninguém lá em cima.
    Sr. Smith fora enterrado com o auxílio de alguns novos moradores, nos quais também prestigiaram o seu enterro, já que não possui amigos nem parentes. Morrera aos 69 anos.

    Hoje o prédio apesar de abandonado, até hoje todos anos, na mesma sexta, ainda se pode ouvir pelas ruas a pequena Aninha correndo, pedindo doces ou travessuras e chorando por sua mamãe que nunca irá chegar.

    Relatório policial:

    De acordo com relato de vizinhos e o depoimento do próprio Sr. Smith a pequena Ana era uma garota alegre e muito comunicativa e amada pelos pais. Costumava ela assim como os garotos da vizinhança, tocar as campainhas dos prédios e saírem correndo para se divertir. O Sr. Smith demonstrando um comportamento psicótico, passou a vigiar os garotos em especial a garota a fim de segundo o mesmo, se vingar por tocarem a sua campainha. Passou meses estudando os passos da pequena Ana (era assim que todos a chamavam), até encontrar a oportunidade exata para agir. Ao tocar a campainha sozinha do prédio, Ana não notou que alguém a esperava escondido, esse alguém era o Sr. Smith, o mesmo colocara a sua perna no caminho, fazendo com que a garota tropeçasse, caindo da escada, quebrando o pescoço, indo a óbito imediatamente. A vizinhança o linchou e graças a chegada da polícia, sua vida foi poupada, sendo preso em flagrante. Chegará a ser detido, porém sua fiança foi paga, retornando para casa. Ana Rita era branca, cabelos castanhos, longos, estava com duas tranças lado a lado, usando um vestidinho azul bebê e segurando uma folha alaranjada nas mãos, tinha apenas 6 anos.

    Lindaiá Campos

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    1. Olá, Lindaiá.

      Obrigado pela sua participação.

      Ainda não li os seus contos para saber se está usando as imagens dos dados, mas já pude verificar que seus contos passam do limite de caracteres, que é de 2000, considerando espaços.

      Esse conto tem 14883 caracteres com espaços.
      Dessa forma, ele não será considerado para a antologia.

      Você pode escrever outros ou resumir os já publicados para participar do projeto, ok?

      Atenciosamente,
      Lucas Palhão

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  8. Um conto só para meninos

    Meio caroço de abacate e palitos de fósforo, espetados como braços e pernas, faziam um soldado. As coroas do rei e rainha eram tampas dos frascos de dentifrício e as capas pedaços de panos dependurados. Reis e soldados eram frágeis e, se sofriam arranhões na batalha, esses ficavam vermelhos feito feridas abertas.

    Fazíamos papagaios de papel, com taquaras de bambu, congestionando o céu nos dias de vento e jogadores de times de botão, com pedaços de plástico derretidos dentro da forminha de Leite Ninho. Goleiros e troféus eram caixas de fósforos enfeitadas e as patinetes e carrinhos, com rodas de rolimãs, faziam um barulho infernal deixando riscos nos passeios.

    Construíamos nossos brinquedos sem sonhar o tempo virtual que estava por vir, quando animações digitais e videogames em três dimensões tomariam lugar das nossas histórias simples, contadas por mãos pequeninas de crianças correndo pelas ruas quase desertas de automóveis. Um mundo onde a arte dos carpinteiros-meninos já não encontraria mais lugar, nem vez.

    Luiz Walter Furtado

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    1. Olá, Luiz.

      Obrigado pela sua participação.

      O número de caracteres está dentro do limite, porém encontrei apenas a imagem do mundo no conto. Não achei o livro e a pirâmide, figuras dos outros dois dados na imagem no início da página.
      Gostei muito do lirismo do conto, mas não poderei considerá-lo para a antologia.
      Se tiver um tempinho, acho que as dicas do site a seguir podem ajudá-lo:
      http://pt.wikihow.com/Iniciar-um-Conto

      Fique à vontade para enviar mais textos, tanto para esse episódio quanto para os outros. E lembre-se de usar as imagens dos dados na história, ok?

      Atenciosamente,
      Lucas Palhão

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    2. Oi, Palhão. Quando postei este conto não tinha entendido ainda a questão dos dados. Acho que com pequenas modificações a gente poderia colocá´-lo no 8º episódio da terceira temporada:
      Brinquedo já tem. O raio ou faísca: patinetes e carrinhos, com rodas de rolimãs, soltavam faíscas e faziam um barulho infernal deixando riscos nos passeios. A chave: Tínhamos a chave de um mundo onde a arte dos carpinteiros-meninos já não encontraria mais lugar, nem vez.
      Se você concordar posso fazer as modificações e postar lá no referido episódio.

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  9. Há muitos e muitos (e milhares de) anos atrás, abri os olhos pela primeira vez. Lembro-me bem do dia: Tive em mim a sensação de saber tudo e, ao mesmo tempo, nada. Eu era completo, mas vazio; era pesado, mas igualmente leve; sufocante, porém desopressor. Pelos céus! Era (e sou) um paradoxo ambulante. Ou, melhor dizendo, enraizado. Mas o mundo em mim cabia, e eu explorei os quatro cantos do globo em um segundo.
    Conheci as Pirâmides de Gizé antes mesmo de estarem prontas, conversei com Moais anciãos e visitei galáxias paralelas e desconhecidas. Todo o desenrolar da magia efetuou-se durante o meu primeiro piscar de olhos e, então, passei de unidade a conjunto, sem me dar conta. Pulei de mão em mão durante gerações e ao lado de heróis, malandros e piratas, eu corri. Oferecia um modo de escape e, em troca, recebia um pouco mais de vivência, que acalmava minha ânsia pelo saber, ainda que apenas momentaneamente. Mas a sede nunca se foi, e hoje sei que nunca irá embora.
    O tempo se tornou velho companheiro – às vezes tomamos um café em uma esquina qualquer. Imune a morte, observo de longe cada pedaço do ser se esvair e, então, fundir-se a mim. Tornamo-nos um. Não existe mais a solidão e me vejo confortável em dedos de todos os tipos: ágeis, curiosos, hesitantes, inexistentes. Mesmo que seja puro ego: Sou imortal. Afinal, mesmo quando esquecido e mesmo que me desfaça, marquei no mundo – assim como ele se marcou em mim – uma ferida incurável.
    Tornei-me mais do que jamais imaginei ser e continuo sempre a crescer. Que maravilha é viver, e não apenas existir. Ah, é claro! Muito prazer, espectador que a mim se junta na jornada. Puxe uma cadeira e abra a mente: Eu sou o Livro Mais Antigo do Universo.

    Autora: Giovanna Cuzziol.
    Prateleira de Vidro (https://prateleiradevidro.wordpress.com/)
    publicação autorizada

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  10. O tarólogo

    O sono persiste. Fico na posição fetal por uns cinco minutos depois estico todo corpo. No tarô sai o arcano 21, o Mundo. Não sei porque ainda brinco disso. E não sei porque ainda leio fielmente o horóscopo. Sou de Virgem com ascendência em Peixes. Um metódico sonhador.
    No ônibus continuo os capítulos do livro “O sono eterno” do Raymond Chandler. Na verdade, é uma releitura. Pela janela vejo um cachorro com o focinho no saco de lixo aberto. Ele não sabe que aquilo é resto. Olho no relógio e mais um dia de atraso. Vou usar a desculpa do trânsito.
    Detesto o quadro brega da recepção. Mas o supervisor acha que é boa arte. Próximo do fim do expediente ele me chama. “Precisamos conversar”. Já não nos gostávamos tanto, mas depois que comecei a ridicularizar uma reunião de um esquema pirâmide (idiotamente renomeado de marketing multnível) que ele me convidou uns meses atrás, a inimizade foi selada. Qualquer erro, minha cabeça iria rolar naquele carpete fedido.
    Fui demitido. Enquanto ele discorria sua tese totalmente equivocada sobre empreendedorismo, minha cabeça foi bem longe dali. Quando terminou era patético ver sua carinha de vitória.
    Nos fones de ouvido a voz suave do Morissey canta “Heavens Knows I´m Miserable Now”. Na janela do ônibus vejo uma propaganda no poste de uma astróloga (provavelmente pilantra) e me veio uma ideia ousada. Em casa, decoro a mesa com um pano vermelho e deixo o baralho ao centro. Coloco alguns objetos esotéricos baratos para impressionar. Pronto consegui achar minha saída para a crise. Sou um empreendedor nato. Agora é só revelar o que as pessoas querem ouvir.

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  11. Viagens de Papel

    Não precisava de muito para Miriam do mundo se desligar. Era sonhadora a menina, cujo maior desejo era viajar e conhecer vários países. Entretanto, era de origem humilde Miriam e para tal aventura, não tinha condições financeiras.

    – Pai. Quando a gente pode viajar pra fora do Brasil? – Perguntara a menina, em sua ingenuidade, ao seu progenitor que riu.

    – Quando eu ficar rico.

    – Vai demorar muito pro senhor ficar rico?

    – Umas cincos vidas. – Respondeu o pai.

    Frente à tamanha ironia, saiu a Miriam a caminhar de forma despretenciosa, e pelo acaso chegara ela em uma biblioteca. Viu a menina nos livros: cidades, florestas, pirâmides e outras coisas do mundo.

    Ali viajara Miriam por outros países.

    (Autorizo o conto para publicação, mediante citação da autoria)

    Autor: Luiz Batista

    Perfil no Face: http://zip.net/bntFkT

    Desde já, agradeço a oportunidade.

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  12. Mundos

    -Pai, o que são aquelas coisas brilhantes lá no céu? – quis saber o pequeno garoto enquanto olhava o céu noturno pelo gigantesco telescópio dourado.
    -São outros mundos meu filho – respondeu o pai que naquele momento lia um livro sobre Buracos Negros.
    -E nós podemos viajar para esses mundos pai? – perguntou o garoto sem tirar os olhos daquele mar infinito de estrelas.
    -Claro filho – disse o pai sorrindo – um dia visitaremos todos eles… e finalmente descobriremos de onde vieram as pirâmides.

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  13. O Livro da Regressão
    -…e dizem que você volta para uma das suas vidas passadas.
    -Tipo aquelas regressões que os mágicos e hipnologos fazem?
    -Não. É mais… mágico do que isso. Você realmente regride o tempo e vive uma nova vida. Sua consciência experimenta o restante da outra vida e, quando seu corpo passado perece… bem… você volta.
    -Sei… –Era possível ouvir o sotaque arrastado produzido pela sua boca. Na mesma intensidade percebia-se também a ironia e o descaso.
    Antonieta já tinha sido tachada de louca tantas vezes e em tantos lugares do mundo que não se importava mais. O homem era só mais um rosto bonito que achava que a busca arqueológica da pesquisadora era um misticismo sem sentido. No máximo renderia uma boa história: a lenda de um livro mágico que foi roubado de um poderoso faraó e recuperado dezenas de anos depois.
    Diferente da opinião escondida nas entrelinhas, a moça discordava do sujeito. Rodou o mundo por anos dedicando sua vida inteira a encontrar o livro. Haviam marcas nos quatro cantos do globo sobre o objeto. Deu sorte de acha-lo numa pirâmide escondida e soterrada por milhões de anos e quilos de areia.
    Aquela era a última noite dela na cidade de Cairo. Pegaria um avião na parte da tarde para levar o livro em segurança e estuda-lo em algum museu. Por sorte, ou por azar, tinha topado com o sujeito num bar. Ele parecia estar interessado em procurar mulheres. Ela estava celebrando a nova descoberta e o fato de retornar para sua terra natal.
    Conversaram e de tão empolgada, e levemente embriagada, resolveu mostrar o tal livro que tinha encontrado. A empolgação entre eles não era reciproca. De fato, pareciam inversamente proporcionais.
    Ela achou que ler um trecho do livro, mesmo naquela língua antiga, talvez o impressionasse. Quando o fez, se viu no meio do deserto segurando o mesmo livro. Ao fundo, o que parecia ser uma tempestade de areia eram guerreiros que gritavam uma frase que poderia ser traduzida como… “matem o ladrão”.

    (Autorizo o conto para publicação, mediante citação da autoria)
    Facebook: https://www.facebook.com/evandro.gaffuri

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  14. Título: Demônios II
    Foi uma péssima ideia experimentar aquela droga no volante. No começo, sentiu-se incrivelmente bem! Mas depois viu monstros em toda parte. Apavorou-se e aos gritos atropelou cinco daquelas criaturas. Foi para casa e trancou-se no quarto. Conseguia ver aqueles seres pela janela da casa. No outro dia ouviu no jornal que um louco matou várias pessoas dirigindo um veículo. Ficou transtornado, pensava que aqueles monstros não podiam ser pessoas. Foi até a garagem e conseguiu encontrar uma mão humana suspensa no para-brisas.

    Facebook: https://www.facebook.com/kayo.augustos
    Página de Minicontos: https://www.facebook.com/FolhasMacabras/
    (Caso seja selecionado, por favor divulgar a página).
    Autorizo o conto para publicação, mediante citação da autoria

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