Quarta-Feira Criativa S03E01

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Em resumo, escreva um microconto de 500 a 2.000 toques (caracteres com espaços) conectando as 3 imagens dos dados a seguir. Meu microconto virá depois da imagem. Recomendo que não o leia antes de escrever um e deixá-lo nos comentários para não ser influenciado. Mas é só uma recomendação, não uma proibição.

Compartilhe, participe e divirta-se!

 

quarta_s03e01

Celina, uma bruxa na época da inquisição, esperava o garoto que lhe traria o frasco com a água mágica da Fonte de Chumbo, agora extinta. De repente, ouviu algo bater na janela. Um instante depois, outra batida. Abriu a janela e, a alguma distância, escondido entre os arbustos, viu o menino. Chamou-o e trocou o frasco com o líquido transparente por um saquinho de moedas.

Então, ouviu um barulho de carruagem vindo da porta da frente. Pressentindo o pior, deu o frasco de volta para o garoto e disse:

— Eles vão me prender! Leve o frasco para mim quando eu estiver na praça da igreja — e fechou apressadamente a janela.

Quando Celina se virou, dois guardas arrombaram a porta e o terceiro, um Templário, a julgar pelas roupas, entrou empunhando uma espada. O último deu dois passos e chegou a ponta afiada de sua arma bem perto do pescoço da suposta bruxa. Então, esbravejou:

— Bruxa! Pensou que escaparia de seu julgamento?

— Julgamento? — respondeu ela. — Parece mais uma execução.

— Insolente! — disse o Templário e encostou a espada na garganta de Celina. — Amarrem-na e a levem para a pesagem.

Os guardas obedeceram e a trancaram em uma jaula na parte de trás da carruagem em que tinham vindo. Em pouco tempo, estavam na praça.

Prepararam a balança usando uma pedra com o peso de uma criança como contrapeso. Enquanto isso, o garoto se esgueirou pelo povo, que começava a se juntar para assistir à mais uma execução, e se aproximou da gaiola de Celina. Ela se deitou, abriu a boca e o menino despejou o conteúdo do frasco pelas barras da jaula. Depois, o garoto sumiu no meio da multidão.

Os guardas voltaram, abriram a jaula e conduziram a mulher até a balança. Para a surpresa de todos, ela era mais pesada que a pedra.

— Que bruxaria é essa? — perguntou o Templário. — Você não deveria pesar quase nada!

Em meio às vaias da multidão, os guardas a libertaram, sem desconfiar do poder das águas da Fonte de Chumbo.

56 comentários sobre “Quarta-Feira Criativa S03E01

  1. “Para começar, eu me chamo Augusto, vírgula, e nos últimos vinte e três dias, vírgula, tenho vivido como um cão preso por uma corrente ao mais antigo poste da Cidade dos Humanos. Ponto”. Carina pausou a leitura mais uma vez, como se verificasse a possibilidade de qualquer pista. Continua: “A Cidade dos Humanos é uma região barulhenta e apressada do globo, onde os andares pisam outros andares e os cães soltos na rua são chutados para não mais atrapalharem a passagem…”. A moça olhou as reticências ao fim do bilhete, enquanto o estendia sobre a velha mesa de madeira.

    – Vinte e três dias – Carina franziu o cenho – um antigo poste…

    E lembrou-se da história de Bisa Antônia: A Fonte encantada e o antigo poste amaldiçoado, localizados ali, onde os olhos não alcançam. A lembrança lhe estremeceu: Dizia a lenda que o poste prendia sob a forma de um cão alguma alma humana, sob desígnio do deus da dor e da morte. Bisa Antônia contava que a liberdade da alma presa dependia do olhar de alguém cujo amor superasse toda aversão dirigida a ele. “Ao fim dos trinta dias”, dizia ela, “o animal é sacrificado ao deus da dor e da morte numa cerimônia de posse da Cidade dos Homens pelo próximo século.”, era a disputa entre o deus da dor e da morte e a deusa da redenção.

    E Carina viu que não havia mais tempo: o calendário datava uma semana após a escrita do bilhete. Tomando às mãos a varinha encantada que Bisa Antônia lhe dera secretamente em forma de um graveto, a jovem bruxa voou até a fonte que conhecera ainda na infância. E o poste estava ali, e o vira-lata pisoteado, quase morto. Seu mau cheiro produzia repugnância e afastamento, e uma balança mágica suspensa no ar comparava todo o não-amor e, de outro lado, todo o ódio dirigidos ao animal.

    Quando Carina chegou, um homem tomava nos braços o animal machucado e marchava com ele entre a multidão de passos. Os olhos do homem nada diziam, como se este apenas andasse. Mas o seu riso era de uma divindade insana.

    (Criss Araújo, 24/08/2016)

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  2. O peso da justiça

    Otávio era um menino de vivencia normal, como os demais de sua idade: brincava, estudava, apesar da distância de sua casa à escola, mas, por exigência do pai que costumava dizê-lo que ‘não deseja ao filho um futuro igual ao seu que, por não haver estudo, precisava “dá um duro danado” para sobreviver e assegurar o sustento da família’, ele obedecia a exigência de seu genitor.
    Certa vez quando já avistava há cerca de 100 metros de casa, caminhando lentamente e observando as lindas flores plantadas ali pela mãe, bem próximo da casinha da família, ele notou que algo de estranho poderia está acontecendo em sua casa. Apesar da pouca idade, tinha somente 11 anos, o garoto apressou seus passos e, em menos de dois minutos já estava diante da cena que ele jamais esqueceria em sua vida.
    A mãe, totalmente incormada, chorava sobre o corpo de seu pai que, sem qualquer explicação, havia sido atingido com um tiro a queima roupa por um desconhecido que cometendo o assassinato, saira pela estrada com direção oposta à que vinha Otávio.
    Ele, também inconformado, abraçou a mãe e beijou o rosto do pai, prometendo para sí próprio que aquele ato não ficaria impune.
    Após a morte do pai os dois se mudaram dali. Anos se passaram, o menino crescerá e ficara adulto; tendo sido sempre um ótimo filho e cuidador da mãe. Formara-se em direito e já tendo adquirido renome, depois de muito investigar, ele descobriu que o autor do crime tinha sido um ex-visinho que, mesmo sem ter tido qualquer divergência com seu pai, na época desejava comprar sua terra, algo que realmente aconteceu. Apesar de lembrando-se da vingança que desejara, ele não quis mais se vingar. Voltou ao local pela primeira vez depois de mais de uma década e, fingindo não saber da verdade, propos a compra da terra que pertencera ao pai. Após concluir a compra e já tendo as terras em sua posse, Otávio denunciou o assassino, revelando tudo quanto havia descoberto à justiça que fez com que o criminoso pagasse pelo terrível ato.
    Otávio mandou que desmanchassem a casa da família, pois não desejava mais que ninguém ali habitasse e, no mesmo local em que o corpo do pai havia caído, ele mandou construir uma fonte onde, constantemente, jorrava água cristalina extraída de um rio que passava próximo de lá.

    Erisvaldo Magalhães

    Agosto de 2016

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  3. Peso da justiça (Revisado)

    Otávio era um menino de vivencia normal, como os demais de sua idade: brincava, estudava, apesar da distância de sua casa à escola, mas, por exigência de seu pai que costumava dizê-lo que não desejava ao filho um futuro igual ao seu que, por não haver estudo, precisava “dá um duro danado” para sobreviver e assegurar o sustento da família, ele obedecia a exigência de seu genitor.
    Certa vez, voltando da escola, já avistando sua casa, numa distância aproximada de 100 metros, ele ia caminhando lentamente e observando as lindas flores plantadas pela mãe, bem próximo da casinha da família, notou que algo de estranho poderia está acontecendo ao ver algumas pessoas na calçada. Apesar da pouca idade, somente tinha 11 anos, o garoto apressou seus passos e, em menos de dois minutos, já estava diante da cena que jamais esqueceria em sua vida.
    A mãe, totalmente incorfomada, chorava sobre o corpo de seu pai que, sem qualquer explicação, havia sido atingido com um tiro a queima roupa que lhe tirará a vida; tendo o assassino saído pela estrada com direção oposta à que vinha Otávio.
    Ele, também inconformado, abraçou a mãe e beijou o rosto do pai, prometendo para sí próprio que aquele ato não ficaria impune.
    Após aquela tragéidia se mudaram dali. Anos se passaram, o menino crescerá e ficara adulto; tendo sido sempre um ótimo filho e cuidador da mãe. Formara-se em direito e já tendo adquirido renome, depois de muito investigar, descobriu que o autor do crime tinha sido um ex-visinho que, mesmo sem ter tido qualquer divergência com seu pai, na época desejava comprar sua terra, algo que realmente aconteceu. Apesar de lembrar-se da vingança que desejara, não quis mais se vingar. Voltou ao local pela primeira vez depois de mais de uma década e, fingindo não saber da verdade, propos a compra da terra que pertencera ao pai. Após concluir a compra e já tendo as terras em sua posse, Otávio denunciou o assassino, revelando tudo quanto havia descoberto à justiça que fez com que o criminoso pagasse pelo terrível ato.
    Otávio mandou que desmanchassem a casa da família, pois não desejava mais que ninguém habitasse ali e, no mesmo local em que o corpo do pai havia caído, ele mandou construir uma fonte onde, constantemente, jorrava água cristalina extraída de um rio que passava próximo de lá.

    Erisvaldo Magalhães

    Agosto de 2016

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  4. Camilo olhava fixamente a estatueta de Themis, deusa mitológica da justiça, símbolo da profissão que abraçara há 15 anos. Observava mais uma vez que a deusa estava vendada trazendo em uma mão sua balança e na outra uma espada. Ganhara ela de presente assim que se formou como advogado e conquistou seu primeiro emprego em um renomado escritório de advocacia.
    Ele parecia muito inquieto e reflexivo, levantou-se da sua cadeira, observou sua sala ao redor e caminhou em direção à janela. O dia estava lindo e já era fim da tarde o céu estava alaranjado e ele conseguia avistar o parque e a fonte com chafariz que é uma atração turística e também motivo de curiosidade na cidade.
    Lembrou-se de quando era criança contavam-lhe que a fonte fazia parte do jardim da casa de um mágico, alguns diziam que já o tinham visto com uma varinha na mão apontando para a fonte e que de lá saia qualquer coisa que ele imaginasse, certa vez viram um elefante sair da fonte, diziam que era uma fonte mágica.
    Ele sempre desconfiou dessas histórias, ainda assim invejava o mágico, não pelo mágico fazer elefantes surgirem de fontes, mas por ele conseguir maravilhar as pessoas e as fazerem sonhar enquanto ainda estão acordadas.

    Melissa Santos (Mê)

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  5. Sofia e a fonte
    Guile

    Sofia – um pingo de gente. Andava escorrendo pela praça, toda contente, cheia de graça. Passando por toda aquela gente como gota d´água escorrendo numa vidraça.
    Com o pedido em mente, parou à beira da fonte. Fechou bem os olhos, levantou a moeda, apertou-a forte e arremessou todas as esperanças na fonte.
    Esperou. O tempo passa bem lentamente. A saudade machuca. Dói. Esperava um dia vê-lo novamente. Brincar com sua barba. Ensiná-lo a fazer as lições de casa que eram dela mesma. Seu pai, homem bom que era, estava sempre presente, mesmo quando ausente.
    A alegria foi embora e Sofia deixou as lágrimas escorrerem. Virou-se e andou para longe. Pensava: Não existe mágica. É tudo mentira. Não existe papai-noel. Não existe fada. Não existe princesas e príncipes encantados. É tudo bobeira. Não tem graça.
    Do outro lado da praça, um velho que assistia àquela cena levantou-se e foi até a menina descontente.

    – Ouvi por aí que é só pedir com jeito você consegue o que deseja.
    – Não adianta, moço. Já pedi um montão de vezes.
    – Não desista tão facilmente. Um dia há de ser atendida.
    – Meu pai foi pro céu…

    Sofia virou-se para ir embora, cabisbaixa.

    – Sinto muito. Mas veja com outros olhos. Lembre-se de todos os momentos bons que passaram juntos. Abrace essas lembranças e guarde-as em seu coração. Assim, sempre que quiser, poderá rever seu pai, feliz, junto com você. Tenha certeza de que ele te vê todos os dias de onde quer que esteja. Ele virou seu anjo-da-guarda.

    E bem assim, de repente, estava enroscada, confortavelmente um pouco mais leve no abraço do velho.

    – Obrigada, moço.

    O velho soluçou e prendeu o choro. Em seu peito um vulcão esbravejava. Abriu os braços e viu Sofia ir.
    Um anjo aproximou-se dele, sorrindo:

    – Então…
    – Minha filhinha está linda!
    – Ela está mesmo.

    O homem finalmente virou-se para o anjo.

    – Obrigado.

    Sofia virou-se para dar um último “tchau” mas ele não estava mais lá. Olhou para o céu e sussurrou uma breve prece de uma palavra só:

    – Obrigada…

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  6. Seu José, com seu costumeiro chapéu coco e sobretudo negro, pertencia ao cenário sem graça. A fonte, seca, outrora presenciara beijos roubados e segredos sussurrados. Mas a magia havia ido embora, e com ela, as cores. Suas mãos nas costas, inquietas, eram a tradução da sua mente. Viu um banco que parecia abandonado e dois brinquedos sobreviventes que formavam um parquinho de criança, daqueles de filmes de terror. O ranger do balanço parecia simular o som que poderia sair da sua boca caso a abrisse. Céus, como estava triste! O sentimento de melancolia parecia engolfá-lo. O problema não era a praça – pelo menos, não em si. Era o que ela representava! Toda sua infância e parte da juventude… A maioria das suas lembranças. Lembrava-se do desespero de sair da sala de aula para se dirigir ao gira-gira com os coleguinhas… Lembrava-se de quando colhera flores dali mesmo, de um canteiro colorido, e as tinha levado para a mãe, em um pedido de desculpa elaborado, por causa da janela quebrada. Lembrava-se de quando ele e o colegas haviam se deliciado nas águas da fonte, em um dia tão quente, que podia jurar que seus dedos iriam derreter. Lembrava-se da primeira namorada, de olhos negros, que pareciam jabuticabas, e com quem havia passado a noite vendo as estrelas, naquele chão daquela praça. Prometera o para sempre e, naquela noite, ambos acreditaram. Para um menino de bairro, o bairro era o mundo, e o mundo era tudo, e tudo era eterno. E agora, era nada. Um sopro gelado e solitário, assim como ele, bagunçou o arbusto amarelado ao seu lado. Seu José decidiu que era um sinal. Antes de olhar para trás e seguir em frente, sentiu um arrepio pela coluna. Se a magia tinha ido embora, não era justo que ele permanecesse lá. Se o para sempre se acabara, pois então, que justiça fosse feita! Que o levassem. Não havia mais nada ali a ser feito. Pensou que sentiria medo, mas sentiu conforto. Talvez sua hora não estivesse tão longe assim…

    autora: Giovanna C. Longo.
    título: O menino do bairro.
    blog: Prateleira de Vidro (https://prateleiradevidro.wordpress.com/)
    publicação autorizada

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  7. Dentro do supermercado

    – Nossa… Você se parece tanto com meu filho que faleceu…
    – Olha só, minha senhora… Eu já recebi esse golpe no WhatsApp. No final, a senhora sai falando que sou seu filho e eu tenho que pagar por suas compras. Portanto, não perca seu tempo comigo.

    Com os olhos marejados, a senhora abre a carteira e mostra a foto do filho.

    – Como eu disse, esse é meu filho. Só que ele não era sem educação como você.
    – A senhora me desculpe, pelo amor de Deus! Não quis ser grosseiro. É que eu vi esse negócio no WhatsApp…
    – Quer dizer que você acredita em tudo que lê na Internet?
    – …
    – Tchau!
    – Espera… Vamos fazer o seguinte… Vamos recomeçar? Eu ando em direção a senhora, e a senhora fala novamente sobre seu filho…
    – VAI À MERDA!

    Engoli em seco. Fui um troglodita com a senhora. Senti-me a pior criatura do mundo. Enquanto eu era consumido pelo arrependimento, a senhora desapareceu.

    Fiquei meio desnorteado e saí do mercado. Enquanto saía, percebi que ela estava pagando por suas compras. Sem pensar 2 vezes, lembrei que o mercado vendia flores. Peguei o primeiro buquê que vi, “furei” o caixa de quem compra menos de 15 volumes, e ainda consegui encontrar com a senhora na saída.

    – São para a senhora. Posso ser menos educado que seu filho, mas tenha certeza que as ofereço de coração e em nome dele se Deus assim permitir. Aceite minhas mais sinceras desculpas.
    – Gustavo era o nome dele. Muito obrigado, meu filho!

    Nos abraçamos. Eu chorei. Ela chorou. Ao fundo, ouço a voz de um dos funcionários do mercado.

    – Tá doido para comer a velha! Ela deve ter dinheiro!

    https://agorababou.com/2016/12/26/dentro-do-supermercado/

    Título: Dentro do supermercado
    Autor: Fábio Ottolini
    URL: https://agorababou.com/2016/12/26/dentro-do-supermercado/
    Publicação autorizada

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    1. Olá, Fabio!

      Muito obrigado pelo seu texto.
      Eu já o tinha elogiado no seu blog 🙂

      Só estou com um probleminha: como vou relacioná-lo com ‘fonte’, ‘balança’ e ‘mágica’, conforme as figuras do episódio?

      Se não conseguirmos encaixar em nenhum episódio, posso criar um capítulo bônus com o seu texto, como fiz com a Laynne na primeira antologia.

      Que tal?

      Abraço!

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  8. A Luz

    Desde que se perdera na floresta há dois dias, seguia uma réstia de luz que parecia estar a poucos passos de distância, entretanto, por mais que andasse, não lhe alcançava. Já estava quase sem forças! Da estrada avistou a fonte entalhada em pedra, uma peça formada por uma grande ânfora sustentada por onze meninos e de onde jorrava uma água, que lhe pareceu fresca e cristalina. O aspecto sombrio do castelo o fez arrepiar, mas a sede de mais de dois dias, sobrepujou o medo e, com toda a cautela, entrou no pátio e se pôs a beber. Neste instante, surgiu ao seu lado um senhor de barbas e cabelos longos e brancos, de ares malévolos. Com um gesto de suas mãos todas as portas se fecharam e o menino se viu preso ali. O mágico disse-lhe com um brilho de maldade nos olhos:
    –Vais pagar com a vida tua ousadia em invadir os meus domínios e beberes da minha água.
    Retirou da bolsa que trazia ao tiracolo, uma pequena balança e duas pedras, uma preta e outra branca, porém de tamanho e formato iguais e sussurrou-lhe ao ouvido, causando ainda mais terror:
    — Escolhas! Se escolheres a mais pesada, matar-te-ei agora mesmo. Se, do contrário, escolheres a mais leve, completarás a coleção de abelhudos da minha fonte.
    O menino pode ver que ali, naquela fonte, estavam crianças de diferentes épocas. Tremendo de medo e amaldiçoando aquela luz que o levava ao seu fim. Optou pela pedra negra e se preparou para o pior. Quando o mágico as colocou na balança, teve um súbito estremecimento e olhou, incrédulo, para suas mãos transformadas em pedra, segurando uma balança equilibrada. Aquelas pedras, pela primeira vez em milênios, tinham o mesmo peso. Antes de transformar-se totalmente, ainda balbuciou:
    –Impossível! Imposs…
    Os onze garotos da fonte deixaram cair a pesada ânfora e saíram correndo, chorando de alegria pelo encanto quebrado após tantos séculos de petrificação. Estavam livres da maldição do feiticeiro. No alto da torre norte um anjo observava, projetando doze luzes na direção da cidade.

    Autor: Francisco Ferreira
    Título: A Luz
    Blog: http://impalpavelpoeiradaspalvras.blogspot.com.br/
    Autorizo a republicação de seu texto na antologia caso seja aprovado.

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    1. Adorei, Francisco!

      Obrigado pela participação e parabéns por seguir todas as regras:
      -1995 caracteres;
      -citou as 3 imagens no texto.

      Fique à vontade para participar de quantos episódios quiser!

      Um abraço,
      Lucas Palhão

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  9. Pássaros do Passado

    Quando criança, tínhamos uma casinha nos fundos da nossa morada, que guardávamos uma grande variedade de passarinhos.
    Nossa admiração e carinho pelos bichinhos eram tão grandes que sempre ao vermos uma avezinha sendo vendida na feira livre era motivo para a maior comoção, terminando muitas vezes aumentando a nossa criação.
    Só que o tempo era curto para quem tinha múltiplas atividades escolares em ambos os turnos, assim os animais eram forçosamente postos de lado, não tendo o cuidado merecido, muitos sofriam com a desatenção, chegando até morrer.
    Um dos dias que mais doeu na gente foi quando o prego que segurava a gaiola na parede caiu, o bichinho se assustou, voando por dentro da gaiola, terminou por se enforcar ali mesmo, o papa-capim pardo do canto glorioso, teve um fim trágico.
    Quando nos mudamos, indo morar na civilização, tivemos de abrir mão deles, soltamos quase todas as aves, mas um canário-da-terra, que tínhamos acabado de encontrar, ainda era um filhotinho abandonado pela mãe; indefeso, resolvemos entregar aos cuidados do vizinho, mas nem por isso deixou de ter um fim trágico, sendo devorado por um rato esfomeado.
    Ao sabermos de mais um final violento, ficamos muito tristes com mais essa má notícia, contudo são leis que somente a natureza domina.
    Muito tempo depois, alcançando a maturidade, recebemos a graça do poder do desdobramento, conseguindo, pois, voltar no tempo, no mesmo cenário de quando éramos crianças.
    Com toda a consciência de uma missão espiritual, fomos direto ao local onde as gaiolas ficavam, subimos as escadas e lá estavam todos os espíritos deles aprisionados, abrimos as respectivas gaiolas para enfim ganharem a sua liberdade.
    Aproveitamos para ver a nossa falecida mãe, ficamos um tempo, antes de ela sair para visitar uma parenta, sabíamos que não poderíamos mais acompanhá-la, ela saiu com o nosso pai naquele fusquinha verde da época, deixando mais saudade ainda.
    Seguimos pela rua, entramos na residência da vendedora de geladinho, como a porta estava aberta, adentrarmos ao recinto, percebemos já estar numa cidadezinha do interior, onde duas crianças brincavam num quarto sentadas no beliche, afaguei a cabecinha de uma delas, sabendo da sua importância no futuro.
    Tínhamos a consciência de que Deus nos proporcionara a alegria de reparar o passando, mas como tudo que é bom dura pouco, percebemos que o tempo estava se esvaindo, a ampulheta teimava em cultivar a areia, assim declinamos da nossa jornada, ficando a satisfação de ter cumprido a minha missão e de ainda poder conhecer a minha esposa ainda pequenininha, lá nos confins do sertão.

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    1. Olá, Marcelo.

      Obrigado pelo texto.
      Infelizmente, não consegui identificar as imagens dos dados no seu texto.
      Elas são: fonte, balança e mágica/varinha.
      Além disso, seu texto tem 2600 caracteres, mais que os 2000 permitidos pelo regulamento.

      Esse texto não será considerado para a antologia.
      Se quiser enviar outro, fique à vontade, ok?

      Atenciosamente,
      Lucas Palhão

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  10. A queda

    A fonte quebrou. Não foi apenas uma rachadura qualquer, não foi um pedacinho pequeno do pé, mas um grande pedaço simplesmente entrou em desacordo com o resto da fonte e decidiu não querer viver mais com ela… então se jogou.

    Começou a se soltar pouco a pouco, o restante da fonte insistiu para que não fosse, mas ele não deu ouvidos. Logo a maior parte de seu corpo estava solta, restando apenas uma pequena liga. E então esta se partiu e ele começou a cair. Lentamente. Muito devagar para ser verdade. E enquanto caia, o conhecimento de uma vida inteira como fonte veio à tona.

    Percebeu que não sabia ser outra coisa além de fonte… nem queria ser… mas na própria forma de pedaço, seria uma simples lembrança inútil do que um dia fora a fonte! Na verdade, olhando, a fonte continuava sendo fonte, avariada, sim, mas continuava a cumprir seu papel.

    O pedaço percebeu que queria voltar, se unir novamente ao restante da fonte, mas era impossível, uma força desconhecida o puxava, já estava quase chegando ao fundo do desespero, partículas de poeira saiam e se espalhavam ao seu redor… Tocou o chão com um grande grito, desejando que algum milagre acontecesse, e desmaiou.

    Quando voltou a si, percebeu que já não era mais um grande pedaço, mas um conjunto de pedaços pequenos. Havia algumas falhas, partes de si mesmo perdidas, mas o melhor: percebeu que estava de volta a fonte. Algo mágico aconteceu.. o milagre que pediu. Conseguiu voltar, mas não era o mesmo. Agora entendia que a fonte já foi uma única coisa, mas que se partiu uma e outra vez, e mais outra ainda, e que a cada quebra, se tornou algo novo. O grande pedaço enfim percebeu, e então seu pensamento se equilibrou. Ficou em paz por ser fonte de novo.

    Em sua serenidade, percebeu uma voz, vinda de algum lugar distante: “essa fonte…. é a milésima vez que quebra… mas é tão linda… não importa quanto vezes quebre, sempre vou concertar…”

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  11. Um conto da Independência
    1849
    – Joaquim, Joaquim…
    – Calma, mancebo, o que te aborrece?
    O garoto corre casa a dentro, interpelando seu amigo, com uma folha à mão.
    – Olha aqui, olha!
    – Que é isto? – Joaquim apanha o papel e, juntos saem para a varanda.
    – ‘Num’ tá vendo? É o príncipe.
    – Ih, é?
    – É, ué!
    – Mas que diabos ele faz montado nesse bicho?
    – A freira disse que foi o grito do Ipiranga.
    – E pra gritar tinha que montar nesse troço?
    – É um cavalo.
    – Parece um asno gigante.
    – Pois é, só tem desse bicho na Europa.
    – E o que ele gritou?
    – “Independência ou Morte” Foi isso.
    – Arre!
    – Foi quando o Brasil ficou independente de Portugal.
    – Ó céus, nem sabia. Faz tempo?
    – Em 1822, dia sete de setembro.
    – Mas, gajo, só agora você me diz? Vinte e sete anos depois? – Joaquim contava já com dez anos.
    – Só agora a freira nos ensinou. Leia aqui.
    – Quincas, tu ainda não aprendestes a ler?
    – Só uma palavra por vez. Muitas assim juntas eu não consigo.
    Joaquim toma o folheto das mãos do amigo, olha a gravura com atenção, lê em voz alta o hino que o príncipe D. Pedro I criou para comemorar a data e tudo o mais a respeito do grito do Ipiranga.
    – E agora? – pergunta Quincas.
    – Agora? Agora vamos construir uma grande nação. – Joaquim abraça o folheto levando-o até o peito, enchendo-se de um brio patriótico que inflama em seu peito…
    – Joaquim! – um grito de dentro da casa desperta os meninos…
    – Joaquim Maria Machado de Assis, anda logo, entra para tomar a lição!

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  12. O plano de Isadora

    Os presentes estavam todos abertos e caídos pelo chão.
    Uma música de festa tocava ao fundo. Uma daquelas baladas que ela costumava adorar e saber a letra inteira. Letra essa que não era muito complexa. Nada em sua vida era muito complexo.
    Da academia, para o yoga, para pilates, então de volta pra casa. Pedir pra empregada preparar comida sem gordura, sem sódio, açúcar nem muito sal. Assim como sua vida. Ir para a empresa e gritar com os funcionários por umas duas horas antes que se cansasse e voltasse para casa. Balada noite sim, noite não.
    Quando seu aniversário chegou, mandou dar a maior festa que já tinha tido. Cerca de duas mil pessoas haviam comparecido e os presentes estavam todos pelo chão, criando grandes pilhas de grandes marcas importadas.
    Gucci
    Chanel
    Victor Hugo
    Prada
    As novas coleções, top de linha europeu, tudo o que havia de melhor no mundo.
    Quadros originais de milhões de euros, manuscritos despedaçando de escritores para os quais ela mal ligava, nos quais nunca havia tocado. Que só serviam para mostrar. Assim como todo o resto de suas coisas.
    Ela não ligava pra nada daquilo, não gostava de nada daquilo, era tudo só para mostrar. Só pra que alguém pudesse ver e pensar “Nossa, que vida maravilhosa a Isadora deve ter” ou “Como ela é culta” e até mesmo “Eu nunca poderia comprar algo assim”.
    Isso costumava agradá-la muito no começo, ela adorava ter uma vantagem sobre todas as outras pessoas. Chegava a pensar que a deixava feliz. Que ela, Isadora Sampaio era feliz, e não havia motivo de inveja maior do que esse. Seu sorriso era sempre impecável, como o da Mona Lisa, e ele nunca se apagaria, pensou ela, nunca.
    As pessoas haveriam de lembrar dela sorrindo. E por isso achou que não haveria dia melhor para fazer isso do que no seu aniversário.
    Ela nunca tinha sido tão feliz quanto naquele dia, eles pensariam, ela nunca mais será tão feliz de novo.
    E eles sentiriam muito.
    Sentiriam tanto que nunca nem desconfiariam que ela nunca havia sido feliz de verdade. Não sabia nem o que aquilo significava. Mas como eles poderiam imaginar isso quando o plano de Isadora era perfeito?
    Ela pegaria todas aquelas marcas, todas aquelas coisas de bilhões de reais, tudo aquilo que a destruiu, e deixaria para destruir outras pessoas. Por isso cada coisa sua já tinha um dono. Isadora era muito inteligente, ao contrário do que todos pensavam. Eles iriam ver.
    Dali a vinte anos olhariam pra trás e pensariam “Ela planejou tudo isso, como pode ser tão esperta?”
    Tudo estava pronto. O nó da corda perfeitamente feito. Se havia algo que seu útil pai soubera fazer em vida era dar os mais variados tipos de nós. Você pode pensar “Que habilidade mais estúpida”, nas ela foi essencial para Isadora naquele momento.
    Ela deixou a carta em cima de sua mesa de centro vintage, um original dos tempos de guerra que tinha comprado em um leilão em Moscou.
    Subiu em sua cadeira futurista, moldada por algum artista que as pessoas consideravam intelectual.
    A corda em volta de seu pescoço era como um colar de diamantes, e por um momento se sentiu Marilyn Monroe, sendo presenteada pelo presidente com as melhores joias do mundo. Todos veriam como era lindo seu colar.
    Um sorriso lhe cobriu o rosto e ela pulou.
    Pulou para a morte como pularia para a vida.
    Descobriu que nunca havia respirado de verdade até ser a última vez.
    Isadora fez valer a pena.

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    1. Olá, Juliana.

      Obrigado pela sua participação.

      O conto é interessante, mas infelizmente passa do limite de 2000 caracteres (3361) e não utiliza as três imagens do episódio (fonte, mágica/varinha e balança).

      Fique à vontade para enviar outro texto para quaisquer dos episódios, incluindo esse.

      Atenciosamente,
      Lucas Palhão

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  13. ELE

    O Garoto estava sentado sobre um banco de pedra em frente ao grande jardim do orfanato. Olhava atento e sem compreender a razão dos sorrisos das outras crianças; elas corriam de um lado para outro incontroláveis. Andou até a fonte construída debaixo de um cajueiro, queria ardentemente tocar nas suas águas. Mas estava seca.
    – Tão seca quanto minha vida. – disse decepcionado.
    O Garoto mantinha o olhar sempre frustrado, a expressão abatida e inconformada. A mente não descansava, aliás, ele mesmo não permitia que ela descansasse. Vivia se equilibrando entre a balança dos sonhos e do horror. Contudo, achava que a balança da injustiça pesava mais do que todo o universo sobre suas costas.
    – Vem brincar com a gente! – gritaram as crianças correndo aos gritos.
    – Não, obrigado! – respondeu, voltando a encarar a fonte.
    – No meu tempo essa fonte tinha água. Era uma diversão pra mim e meus colegas. – disse um homem que havia chegado sem o Garoto perceber e que acabou o assustando.
    – Então esse lugar devia ser menos entediante do que é agora. – respondeu, encarando o sujeito de alto a baixo com seu terno desabotoado, cabelo bagunçado e gravata na mão.
    – Acho que era sim, mas algumas vezes que eu vinha aqui era pra fazer um mesmo pedido.
    – Qual pedido? – perguntou, tentando esconder a curiosidade.
    – Eu queria ser mágico.
    – Mágico? – disse com estranheza.
    – Isso mesmo. Queria ser mágico pra poder sair daqui e poder conhecer outros lugares do mundo.
    – E você conseguiu?
    – Não consegui ser mágico, infelizmente. – disse rindo – Mas pelo menos conheci muitos lugares bonitos.
    Ambos ficaram quietos. O homem observava o Garoto de ar melancólico e parecia querer dizer algo, porém não encontrava o jeito correto. Tomou coragem e conversou novamente:
    – Como posso lhe chamar? – pareceu nervoso – Quero dizer, qual seu nome?
    O Garoto ficou pensativo por alguns segundos.
    – Não tenho nome.
    – Então… posso lhe chamar de Filho?
    O Garoto sorriu antes de responder:
    – Sim, claro que pode.

    Autor: Mario Moreira
    Título: Ele
    Autorizo a republicação de seu texto na antologia caso seja aprovado.

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  14. ”A aura e o equilíbrio’’

    O temporal seguiu durante todo o funeral e se afastou no instante em que a última porção de terra foi lançada.

    Miguel, era o neto preferido daquela avó Nice. Lúcida, coração brincalhão e energia. Bastou um diagnóstico terminal e toda a longevidade se esvaiu junto com a terra.

    O peito desolado do garotinho, buscava um equilíbrio para suas lágrimas. Queria ter todas as emoções balanceadas feito a avó. Mas, o cerne de uma criança necessita de vivência e tombos para simplesmente aprender a deixar para lá.

    Na primeira noite sem as histórias da vovó para dormir, Miguel não conseguiu domar seu insone peito e pediu baixinho:

    – Vovó! Eu só queria suas histórias agora.

    Com a fé angelical, ele fechou os gigantes olhos azuis e deixou seu coração expandir a magia dos desejos.

    Luzes em forma de faíscas saíam de sua camiseta e preencheram o quarto. Eram uma música cheia de harpas, doces sons aquáticos e pausas. Seu punho cerrado, foi se abrindo aos poucos, pela movimentação de uma mão envelhecida e envolta por uma cândida aura.

    A corrente daqueles dedos energizaram as mãos e a alma do garoto. Uma espécie de sopro vital enviado pelo universo.

    Miguel escancarou os olhos e permitiu ser levado. Ela soltou a risada dos sonhos e soltos no ar, os dois se reconheceram. Neto e avó.

    Ambos pousaram na lápide de Nice e o sorrido de Miguel se transformou numa figura sofrida. A mulher se sentou em cima do túmulo, afagando o menino.

    – A senhora vai embora?

    Ela simplesmente assentiu e apontou para uma fonte ao lado do túmulo.

    – Estarei lá! Sempre que os dedos da imaginação te carregarem, você me encontrará nas águas dessa fonte, no equilíbrio do seu coração e na magia dos seus sonhos!

    As bochechas dele se avermelharam e as lágrimas escaparam como uma fonte sem controle. Miguel abraçou a senhora, se agarrou naquela aura e adormeceu nas lembranças.

    •Eu autorizo a republicação na antologia.

    https://www.facebook.com/cristiane.v.defarias?ref=ts&fref=ts

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    1. Título: A garota dos sapatos de couro
      Betânia acreditava que a vida fluía de uma fonte mágica permanente, na verdade não estava errada, o que ela não considerava é que o peso de suas escolhas e erros agiriam como poluentes comprometendo sua felicidade.
      Garota bonita e descolada, de família tradicional e de classe alta, vivia o paraíso em terra, nunca passou vontade de ter nada, nunca precisou se quer lavar o copo que sujava, sempre teve quem fizesse tudo por ela.
      Cresceu ostentando luxo e requinte, ia do Brasil a paris como quem vai na esquina, conhecia os quatro cantos do mundo, por fim nada mais a fascinava.
      Filha única de donos de multinacionais, vivia rodeada de figurões e puxa sacos, mas foi no mundo de um garoto pobre que ele se sentiu mais aconchegada. O contato com pessoas de outro nível social não agradava nem um pouco seus pais, mas ao contrário do que desejavam não podiam prender a filha numa bolha impenetrável. Ainda mais agora que acabara de conquistar a maioridade.
      Foi numa ida ao cinema que Betânia conheceu Raul, ele estava atras dela na fila do cinema e na fila da vida também, por que enquanto ela tinha dinheiro sobrando o garoto vivia com o pouco que ganhava lavando carros. É claro que Raul jamais chegaria numa garota daquelas, mas acabou tendo que dirigir-se à ela, que sem perceber estava esmagando seus pés com seus sapatos de coro caríssimos! Betânia pediu desculpas e logo a fila andou indo cada um para seu lado, mas de alguma forma os destinos deles estavam cruzados naquela noite,não demorou muito pra se esbarrarem de novo, dessa vez na fila da pipoca,
      – Cuidado, garota dos sapatos de couro! Não quero levar outro pisão. Ela sorriu, desculpou- se de novo e daquele contato nasceu uma grande afinidade, entrosaram-se tanto que perderam a noção do tempo e mais da metade do filme, Betânia disse que queria recompensá-lo pelo pisão e a perda do filme pagando-lhe uma cerveja, ele aceitou mesmo sabendo que seria uma ida sem volta, dado que atração entre os dois era notável. E realmente, Betânia não voltou pra casa aquela noite, trocou sua suite com lenções de puro linho por uma cama de solteiro em um quarto no subúrbio.
      Depois que voltou pra casa e por na balança os p´rós e contras, decidiu abrir mão da vida de requinte por uma vida ao lado do lavador de carros. Ficou por uns meses vivendo a magia das noites de amor, até que a realidade veio à tona, nessa realidade ela não contava com o dinheiro dos pais que a abandonaram, indo morar em outro país, deixando bem claro que a reconheceria como filha quando ela cansasse de brincar de ser pobre. Não demorou mais que dois anos pra que a realidade vencesse o amor. Depois disso, nenhum dos dois amaram novamente, casaram-se com outras pessoas, seguiram suas vidas, mas não são verdadeiramente felizes.
      Autorizo a publicação.

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  15. Indecisão

    Caminhando Pedro pela rua, parou ele à fonte no meio da praça.

    “Quem dera essa fonte fosse mágica, pra como nos filmes, uma moeda eu jogar e meus problemas resolver.” Pensou ele.

    Era Pedro um moço dividido, fazia algum tempo que ganhara uma bolsa para estudar arquitetura no exterior, seu maior sonho, mas tinha ele uma moça, com quem namorava, cujo seu peito a queria tanta força como os pássaros ao céu. Pedro a deixaria caso a outro país fosse.

    Não pôde o rapaz se decidir, dali saíra ele com aquela dúvida a lhe pesar na balança de sua consciência, o que demorou somente até o final da tarde, sua namorada o deixara.

    A moça o amara demais para lhe ser um fardo.

    (Autorizo o conto para publicação, mediante citação da autoria)

    Autor: Luiz Batista

    Perfil no Face: http://zip.net/bntFkT

    Desde já, agradeço a oportunidade.

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  16. Indecisão

    Caminhando Pedro pela rua, parou ele frente à fonte no meio da praça.

    “Quem dera essa fonte fosse mágica, pra como nos filmes, uma moeda eu jogar e meus problemas resolver.” Pensou ele.

    Era Pedro um moço dividido, fazia algum tempo que ganhara uma bolsa para estudar arquitetura no exterior, seu maior sonho, mas tinha ele uma moça, com quem namorava, cujo seu peito a queria tanta força como os pássaros ao céu. Pedro a deixaria caso a outro país fosse.

    Não pôde o rapaz se decidir, dali saíra ele com aquela dúvida a lhe pesar na balança de sua consciência, o que demorou somente até o final da tarde, sua namorada o deixara.

    A moça o amara demais para lhe ser um fardo.

    (Autorizo o conto para publicação, mediante citação da autoria)

    Autor: Luiz Batista

    Perfil no Face: http://zip.net/bntFkT

    Desde já, agradeço a oportunidade.

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  17. Título: Sorrisos Vazios
    Resolveu brincar. Já que o pai lhe tinha dado tantos poderes desde que saiu de férias, talvez fosse um bom proveito se divertir um pouco. Num passe de mágica transformou animais em homens. Os hábitos foram mantidos. Cães que viraram homens ainda latiam e uivavam para lua. Gatos que viraram mulheres ainda lambiam o corpo e miavam vez ou outra quando caminhavam de forma suave.
    O menino, com seus novos poderes, achou que poderia avançar mais. Não tinha tanto apreço pelos humanos quanto o pai. Eliminou deles a raiva, a tristeza e qualquer outra dificuldade que alguém precisaria superar para ser feliz. Resultou num mundo chato e sem qualquer fonte de inspiração. Todos sorriam sem saber que algum dia existiram lágrimas.
    “Ao menos não causarão problemas”, pensou o garoto. O tempo passou e nada mudou. Todos sorrindo como se fossem robôs. Nenhum problema. Ele estava certo, mas muito mais entediado do que no início. Julgou os humanos como fracos e tão facilmente manipuláveis que, como qualquer outro animal, ele poderia deixá-los à mercê do próprio mundo.
    Quando o pai retornou, o que foram anos para os humanos e um tempo mísero para deuses, o menino tentou reverter a mágica para que tudo voltasse a ser como antes de o pai sair de férias. Nada aconteceu. Os homens eram somente animais que sorriam e não pensavam. A magia tinha perdido seu poder.
    O pai chegou feroz e consciente do que acontecia. O filho tentou se explicar. Como resposta obteve: “A justiça é a fonte de meu poder, filho. Quando julga o que não é para ser julgado, sua mágica some”.
    O menino alegou que humanos eram melhores como animais do que com pensamentos. Autoconsciência era também uma “autosabotagem”. O pai o encarou enquanto voltava a construir barreiras para os humanos superarem. Disse, por fim:
    “São teus irmãos. O que aplico a eles, também aplico a você. Gostaria de ter uma vida sem desafios?”
    O filho mediu ambas as escolhas. Negou em sequência.

    (Autorizo o conto para publicação, mediante citação da autoria)
    Facebook: https://www.facebook.com/evandro.gaffuri

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  18. Título: Táxi
    Sexta-feira. Noite. Centro. Uma mulher entra no carro. Não serve, é muito velha. Vamos para o próximo. No norte da cidade um homem de terno quer voltar para casa. Nunca vou fazer isso com uma pessoa do mesmo sexo! Depois uma família quer ir para o shopping. Não sou tão louco assim. Voltando para centro não encontro mais nenhum cliente. Paro o veículo. Precisava daquilo, não aguentava mais. Fazia muito tempo que me segurava. Quando pensei em adiar mais uma noite, ela entrou no carro. Uma loira que usava um vestido que mostrava boa parte dos seus seios. Essa serve!

    Facebook: https://www.facebook.com/kayo.augustos
    Página de Minicontos: https://www.facebook.com/FolhasMacabras/
    (Caso seja selecionado, por favor divulgar a página).

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  19. Noite de Attila

    O caminho já está traçado eis a ponte que irei percorrer
    vou chegando torpe escuridão, os olhos da foice já podem me ver?
    No final será bem mais belo poderei avistar as colinas
    Essa noite será o meu fim? Já tomei cinquenta aspirinas

    Acordei com dores maçantes meu estômago range valente
    Isso é o que chama de vida? para mim é um teor descontente
    Hoje tomo um doce veneno será breve, fico até contente
    Mas parece ter sido inócuo, tão irônico até deprimente

    Nesses trilhos em manhã de aurora interrompo a minha jornada
    Seria o fim, um novo começo? locomotiva está atrasada
    Eu insisto, que venha o trem e me leve para a luz de outrora
    Me partistes maquina cortante? minhas vísceras estão para fora.

    (homenagem a Attila József (1905-1937)

    (Autorizo o conto para publicação, mediante citação da autoria)
    Facebook: https://www.facebook.com/romario.bispo.984

    P.S: Sei que não se trata de um concurso de poesias e sim de contos, mas afim de mostrar também a história contida acima, envio o presente texto.

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