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“Por que o Brasil não vai Para Frente?” ou “Do Lado Errado do Modelo Cultural de Sete Dimensões”

Trompenaars e Hampden-Turner definiram um modelo cultural em sete dimensões com base em uma pesquisa extensiva com milhares de gerentes de 28 países. Através dele, os autores analisam diversas culturas através da classificação de alguns valores básicos. As sete dimensões, definidas por seus extremos, são as seguintes:

  1. Universalismo/Particularismo
  2. Individualismo/Coletivismo
  3. Realizações/Atribuições
  4. Neutralidade/Emoção
  5. Especificidade/Difusão
  6. Direcionamento para Dentro/Direcionamento para Fora
  7. Tempo Sequencial/Tempo Síncrono

A seguir, apresento um resumo de cada dimensão e faço algumas perguntas para ajudar o leitor a encontrar as dimensões que melhor descrevem o Brasil.

Universalismo/Particularismo

No universalismo, as regras, valores e padrões são importantes. Empresas com essa cultura são rígidas com contratos e com políticas de recursos humanos. Já no particularismo, as pessoas e os relacionamentos humanos são mais valorizados. Exceções às regras para se atenderem necessidades individuais acontecem com frequência.

  • Qual dos dois lados dessa dimensão é mais profissional?
  • De que lado você colocaria o Brasil?

Individualismo/Coletivismo

Em sociedades individualistas, o bem-estar e o desenvolvimento dos indivíduos são prioridades. Além disso, espera-se que cada um seja capaz de cuidar de si e que desenvolva as habilidades necessárias para o trabalho. Por outro lado, as coletivistas prezam pelas realizações em grupo e reprimem as atividades individuais (como no “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley).

  • Em qual das sociedades há mais chances de um trabalhador irresponsável sobreviver?
  • Qual o tipo de sociedade predominante no Brasil?

Realizações/Atribuições

Nas culturas orientadas a realizações, as promoções e títulos recebidos ao longo de uma carreira são proporcionais aos resultados atingidos pelo profissional. Títulos são utilizados somente quando relevantes para a situação e a competência é diretamente recompensada. Já nas orientadas a atribuições, a riqueza, status social, idade e gênero costumam ser medidas para ascensão na carreira. Nesse caso, títulos são usados em qualquer ambiente, com o intuito de impressionar.

  • Qual das culturas favorece os mais esforçados e competentes?
  • Qual delas representa a cultura brasileira?

Neutralidade/Emoção

Sociedades neutras são aquelas em que as demonstrações emocionais são controladas e as decisões são baseadas na razão. Entretanto, nas afetivas, as demonstrações de sentimentos são encorajadas, as emoções afetam decisões e estão sempre presentes na fala e na escrita.

  • Qual comportamento é mais apropriado para o meio profissional?
  • Qual o comportamento dominante no país?

Especificidade/Difusão

Culturas específicas são aquelas em que os indivíduos são capazes de separar as dimensões pessoal e profissional. Assim, a hierarquia profissional não tem influência sobre as relações fora do trabalho. Por outro lado, nas difusas, os indivíduos percebem a profissão e a vida privada como algo que se mistura. Sem identificar os limites, a hierarquia pode acabar influenciando a vida fora do trabalho.

  • Em qual das culturas se pode aproveitar de um cargo para conseguir favores pessoais?
  • Qual é a cultura brasileira?

Direcionamento para Dentro/Direcionamento para Fora

Em sociedades direcionadas para dentro, os indivíduos acreditam que, mesmo que a própria sociedade e a natureza sejam entidades complexas, são capazes de influenciar ou controlar o ambiente. Com suas atitudes, conseguem usar de conhecimento e esforço para concretizar uma transformação. Nas direcionadas para fora, crêem que o ambiente não pode ser controlado e devem ser flexíveis para se adaptarem às circunstâncias.

  • Qual sociedade é mais capaz de reagir a uma crise?
  • De que tipo é a sociedade no Brasil?

Tempo Sequencial/Tempo Síncrono

Nas culturas de tempo sequencial, preza-se pelo bom planejamento e execução minuciosa, concentrando-se em uma tarefa por vez. Por outro lado, nas de tempo síncrono, prefere-se realizar várias atividades simultaneamente. Geralmente, o planejamento é bom, mas resulta em uma realização que não respeita os períodos projetados. Enxerga-se o tempo como algo flexível, importando mais aproveitar a execução que terminar uma tarefa.

  • Em que tipo de cultura o futuro alcançado se aproxima mais do planejado?
  • Qual o tipo de cultura de tempo se adota largamente no Brasil?

Conclusão

Não é necessário que uma sociedade concorde, em tudo, com o primeiro item de cada dimensão. Entretanto, percebe-se que resultados melhores são atingidos pelas características à esquerda. Apesar de não ser necessário que todos os aspectos da vida de uma cultura se alinhem com o trabalho, certamente, uma cultura oposta, que siga o segundo item das dimensões, terá mais dificuldade em adotar uma postura inversa àquela que lhe é natural quando tratar do trabalho.

Referências

BALAN, S.; VREJA, L. O. The Trompenaars’ Seven-Dimension Cultural Model and Cultural Orientations of Romanian Students in Management. In: The 7th International Management Conference, 2013, Bucareste. Anais… Bucareste, 2013. p. 95-107.

GUTTERMAN, Alan S. Trompenaars’ and Hampden-Turner’s Seven Dimensions of Culture. Disponível em: http://alangutterman.typepad.com/files/cms—trompenaars-seven-dimensions.pdf. Acesso em 31 de agosto de 2015.

8 comentários sobre ““Por que o Brasil não vai Para Frente?” ou “Do Lado Errado do Modelo Cultural de Sete Dimensões”

  1. Muito bom o tema, Palhão. Vivemos um momento cheio de complexidade e de muita diversidade. As dificuldades aumentam quando temos que ensinar aos nossos filhos valores que muitas vezes estão em desuso e pra piorar o Brasil tem vendido uma imagem que tipo não vale muito a pena a honestidade.

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    1. Obrigado!

      Realmente, educar em meio a tanta deseducação não é fácil.
      Mas a gente segue em frente.
      Um dia, a gente aprende a ser direcionado para dentro e acreditar que consegue mudar as coisas e não tem que aceitar as desgraças como caprichos do destino.

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  2. Vivemos um momento nesse país em que estão fazendo aflorar o pior em intenções boas, tudo se corrompe, se eu pudesse educaria minha filha em outro país, não aqui, um país onde o que eu tentasse ensinar, fosse realmente aplicado como exemplo, não apenas tido.
    Adorei o tema, amigo, ficou bem fácil de entender, difícil mesmo é encaixar o Brasil em alguma dimensão.

    Abraço e bom dia!

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  3. Que post completo e super explicativo, foi realmente incrível ler. Existem coisas necessárias a ser mudadas, mas não teria nenhuma se tudo fosse perfeitamente igual, eu acho. Acho também que nenhum lugar do mundo seja completo assim, mas o certo seria que cada um encontrasse o lugar que faz com que se sintam confortáveis e que os defeitos não os incomodem tanto.
    Muita gente gosta de falar mal do BR só por falar, mas nem ao menos conhece a forma funciona a vida lá fora.
    ;*

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    1. Obrigado, Raphaella!
      Que bom que você gostou.

      Infelizmente, tenho um exemplo de país que está sempre no primeiro item de cada dimensão: a Alemanha.
      Acho que, por isso, eles são reconhecidos mundialmente pelo profissionalismo.

      Mas, claro, os segundos itens levam vantagem na criatividade.
      Por isso acredito que o Brasil tenha tantos prêmios em festivais de propaganda.

      Acho que uma característica é essencial: a especificidade.
      Se soubermos separar nossa vida profissional da pessoal, podemos adotar as dimensões mais profissionais no trabalho e as mais convenientes quando estivermos fora dele.

      Obrigado pela visita e pelo comentário.

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  4. Excelente texto. Temos mesmo que aprender a nos auto-criticar de forma madura e sistemática. Podem até acusar brasileiros questionadores de sofrerem de “complexo de vira-latas”, mas não é o caso. A nossa cultura, apesar de ter alguns pontos positivos, tem pontos negativos mortais que nos fazem patinar eternamente no “quase”, nos condenando à condição de “país do futuro”.

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    1. Obrigado, prof. Marco!

      Exatamente. De nada adianta aceitar a situação e dizer que nada tem jeito quando temos a capacidade necessária para perceber o que há de errado e fazer diferente. É mais fácil apontar as desonestidades das figuras públicas e continuar cometendo as nossas, “de estimação”.

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